domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 28


ATOS 28

Ainda vemos a mão protetora de Deus estendida sobre Paulo e seus companheiros quando eles desembarcaram em Malta. Embora os habitantes fossem “bárbaros” de acordo com os pensamentos romanos, eles mostraram uma bondade excepcional ao grupo naufragado, e as coisas estavam tão dominadas que logo descobriram que um dos visitantes naufragados não era uma pessoa comum. Paulo estava ocupado, fazendo o que podia para ajudar, quando uma víbora mordeu sua mão. Os ilhéus supersticiosos colocaram sua interpretação sobre isso, mas quando o esperado não aconteceu, mudaram de ideia, pulando para a conclusão oposta. A superstição nunca chega a conclusões corretas. Para Paulo, sem dúvida, foi um acontecimento muito menor, visto que ele havia passado pela longa lista de aventuras que catalogou em 2 Coríntios 11:23-28. E quando ele escreveu essa lista, ainda estava inacabada. Ele não passara, por exemplo, pelo naufrágio do qual estivemos lendo. Ele havia naufragado três vezes antes que isso acontecesse. Não há muitos que sobreviveram a quatro naufrágios, nos aventuramos a pensar, mesmo que fossem velejadores profissionais, o que ele não era.
Paulo teve oportunidade de recompensar o chefe da ilha orando e curando o pai dele, tendo em vista o gentil interesse que tivera por todos eles em suas necessidades. Não lemos sobre qualquer testemunho que Paulo tenha prestado, mas sua oração deve ter mostrado a todos que o poder de cura que ele exercia não era dele, mas ligado a Deus. Os ilhéus, achando que o poder de Deus estava no meio deles, não demoraram a buscá-lo para cura de seus corpos, e ao procurá-lo, a encontraram. Tudo isso, na providência de Deus, levou a um tempo de conforto após a quinzena de terrível teste, e até mesmo a um tempo de honra, e isso durou três meses. O apóstolo havia registrado: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância” (Fp 4:12). Estes três meses provaram ser um tempo de abundância.
O mesmo pode ser dito do resto da jornada, quando foi retomada. Tudo correu favoravelmente e chegando a Putéolos, e, encontrando irmãos ali que imploravam a Paulo que ficasse com eles por uma semana, a visita foi organizada de forma feliz. A essa altura, evidentemente, o centurião no comando havia tomado a medida de seus prisioneiros e estava disposto a conceder-lhe notável liberdade. Na viagem terrestre também, irmãos vieram ao seu encontro, tendo ouvido falar de sua aproximação, e isso foi um grande alento para Paulo. Embora fosse homem espiritual, e completamente em contato com Deus e dependente d’Ele, ele não estava acima de agradecer a Deus e se encorajando no amor e na comunhão dos santos, cuja estatura espiritual pode ter estado muito abaixo da sua. É impressionante ver isso e muito encorajador para nós. Tenhamos muito cuidado para não desprezar ou mesmo subestimar o valor da comunhão dos santos.
Assim Paulo chegou a Roma. Suas circunstâncias eram muito diferentes daquelas que ele tinha visualizado quando escreveu antes relatando o que pretendia fazer (veja Romanos 15:22-32), mas ele tinha chegado a eles com certa dose de alegria pela vontade de Deus, e ele foi marcado pela “plenitude da bênção do evangelho de Cristo”. A mão de Deus ainda estava sobre ele, pois, apesar de ser um prisioneiro, ele foi autorizado a habitar sozinho sob guarda, e isso deu-lhe certa liberdade de serviço e testemunho.
Apenas três dias depois de sua chegada, ele foi capaz de reunir o chefe da colônia judaica em Roma e colocar algo de seu caso diante deles. Ele deixou claro que não desejava ser um acusador de sua nação, mas que toda sua ofensa aos olhos dos judeus estava conectada com a “esperança de Israel”; isto é, o Messias há muito tempo prometido. Os judeus, por sua vez, professavam ignorância a respeito de seu caso, mas sabiam do Cristo que Paulo pregava e que ser um Cristão significava para eles pertencerem a uma “seita ... que em toda parte se fala contra ela”. Em toda parte, note-se; não só entre os judeus, mas também entre os gentios. O Cristianismo genuíno nunca foi popular e nunca será. Ele corta profundamente contra a fibra da natureza humana.
Ainda assim, professavam o desejo de ouvir o que Paulo tinha a dizer; e assim um dia foi combinado, muitos vieram, e por um dia inteiro ele foi capaz de expor e testificar e persuadir. Seu tema era o reino de Deus e Jesus, como aqu’Ele em Quem esse reino é centrado e estabelecido; e tudo o que ele tinha a dizer baseava-se na lei de Moisés e dos profetas, pois todos haviam sido tipificados e preditos. Os três verbos são dignos de nota. Primeiro ele expôs as Sagradas Escrituras, mostrando o que elas tinham a dizer e esclarecendo sua força. Então ele testificou de Jesus, relacionando sem dúvida o que ele conhecia pessoalmente de Sua glória no céu, e mostrando exatamente como Ele havia cumprido tudo o que as Escrituras haviam dito a respeito de Seu advento em humilhação. Por fim, ele se propôs a convencer seus ouvintes da verdade de tudo o que ele expôs. Paulo não pregou o que foi chamado de evangelho “pegar ou largar”, mas trabalhou com zelo amoroso para alcançar os corações daqueles que ouviram, e garantir deles uma resposta em fé. Vejamos que o imitamos nisto, pois temos que lembrar de que, embora nada menos do que a ação do Espírito Santo nos corações dos homens seja eficaz, o Espírito frequentemente Se agrada em trabalhar por meio da capacidade de persuasão dos servos de Deus, que estão cheios de amor e zelo.
Foi assim neste caso. O registro aqui é que, enquanto alguns permaneceram na incredulidade, “alguns criam no que se dizia”. Quando a Palavra é pregada, é quase sempre assim. Somente em Atos – quando Pedro pregou a Cornélio – encontramos todos convertidos; mas isso não é o usual, pois no momento presente Deus está chamando uma eleição tanto de judeus quanto de gentios.
Para os judeus incrédulos, antes de partirem, Paulo falou uma última palavra, citando a passagem de Isaías 6, que o próprio Senhor citou em Mateus 13, e João cita no capítulo 12 de seu evangelho. Este triste e terrível processo de endurecimento e morte espiritual se instalou mesmo nos dias de Isaías, cerca de sete séculos antes de Cristo. Foi muito mais pronunciado quando Cristo estava na Terra; e agora o estágio final foi alcançado. Paulo pronunciou estas palavras, percebendo que durante esta era do evangelho, o dia de Israel como nação terminara. Nacionalmente, eles estão cegos e sem entendimento das coisas de Deus, embora sejam muito perspicazes quanto às coisas do mundo. Isso obviamente não entra em conflito com o fato de que Deus ainda está chamando um remanescente de acordo com a eleição da graça, como afirma Romanos 11.
É digno de nota que, citando esta passagem, Paulo diz: “Bem falou o Espírito Santo. Se nos voltarmos para Isaías 6, encontramos o profeta dizendo a respeito desta mensagem: “ouvi a voz do Senhor”, referindo-se a Jeová dos Exércitos; e voltando-se para João 12, encontramos o comentário: “Isaías disse isto quando viu a Sua glória e falou d’Ele, e temos apenas que olhar nos versículos precedentes para descobrir que a “Sua” e “d’Ele” referem-se a Jesus. Quão simples é, pois, que Jeová dos exércitos seja identificado tanto com Jesus como com o Espírito Santo – três Pessoas, mas um só Deus.
O versículo 28 nos dá as últimas palavras de Paulo, conforme registrado em Atos. Elas são muito significativas, como nos dando o ponto para o qual o livro nos conduziu. Ele proclama como uma mensagem definitiva de Deus que Sua salvação é agora enviada aos gentios como resultado da cegueira e dureza do judeu; e ele acrescenta: “e eles a ouvirão”. Isso não significa que todos eles ouvirão, mas sim que, distintamente do judeu, um ouvido que ouve será encontrado lá. Isso, graças a Deus, provou ser verdade ao longo dos séculos.
Quando o Senhor falou à mulher siro-fenícia sobre as crianças e os cães, a pobre mulher, enxergando o ponto, tomou o lugar de ser apenas um cão gentio, e ainda alegou que Deus era bom o suficiente para permitir que houvesse algumas migalhas de misericórdia para ela. Ela estava certa: o Senhor a chamou de grande e honrou-a, concedendo-lhe o seu desejo. Mas aqui encontramos algo mais maravilhoso ainda. Os filhos desprezaram e rejeitaram as boas coisas fornecidas, não apenas as migalhas, mas toda a refeição foi enviada aos cães. Como o próprio Paulo coloca em Romanos 11: “a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios” e “a sua rejeição é a reconciliação do mundo”. Isso não significa que todo o mundo será finalmente reconciliado, mas que Deus agora Se voltou em favor para com o mundo, oferecendo a Sua salvação a todos os homens.
Paulo ainda era um prisioneiro, mas ele foi autorizado a alugar uma casa e morar lá e receber todos os que desejavam vê-lo. Assim, ele teve oportunidades de testemunho e a Palavra de Deus não estava presa. No que diz respeito a este livro, vemos que ele passou dois anos inteiros pregando o reino de Deus e ensinando as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo, sem qualquer impedimento. Seu julgamento foi adiado pela providência de Deus, e uma porta de pregação foi assim aberta para ele. Durante esse tempo Onésimo foi convertido e, sem dúvida, outros também; algumas de suas Epístolas também foram escritas.
Encerrando os Atos, terminamos a história apostólica: passando para Romanos, começamos a doutrina apostólica. É a doutrina que nos permite entender o significado da história; enquanto a história nos permite apreciar a autoridade e o peso da doutrina.

Um comentário:

  1. Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!

    Isaías 52:7

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