Em Icônio, o próximo local
visitado, o trabalho foi semelhante ao de Antioquia. A sinagoga foi visitada e
a Palavra pregada de tal modo que uma multidão de judeus e gentios creu.
Novamente, os judeus tornaram-se opositores e perseguidores e, em vista de
ações desenfreadas, os apóstolos fugiram para outras cidades.
Em Listra, um notável milagre
foi realizado por meio de Paulo. Um homem coxo desde o nascimento foi curado;
um milagre quase igual àquele feito por Pedro, o qual lemos no capítulo 3. Isso
foi feito no próprio seio do judaísmo e, embora tenha dado uma grande abertura
para o testemunho, também trouxe sobre os apóstolos a ira do líderes judaicos.
Isso foi feito na presença dos pagãos, que interpretaram o maravilhoso
acontecimento à luz de suas falsas crenças, e teriam feito uma festa idólatra,
se os apóstolos não tivessem protestado, aproveitando a oportunidade para
declarar a eles o Deus verdadeiro e vivo, que é o Criador. Os Licaonianos
teriam feito exatamente o que Paulo acusou os gentios de fazer em Romanos 1:25,
dizendo que eles “honraram e serviram
mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente”.
A inconstância dos homens é
ilustrada no versículo 19. As pessoas que teriam deificado Paulo são facilmente
persuadidas contra ele por certos judeus que seguiram seus passos, e eles o
apedrejaram, como eles pensavam, até a morte. Paulo agora sofre a mesma coisa
que ele ajudou a trazer sobre Estevão. No caso de Estêvão, Deus não interveio;
no caso de Paulo, Ele interveio. Se Paulo estava realmente morto, ou se só
estava quase a ponto de morrer, não temos como saber: o que quer que tenha sido,
sua restauração, quase num instante, da saúde e a força normais, era um
milagre. No dia seguinte, ele viajou para pregar o evangelho em outra cidade,
como se nada tivesse acontecido com ele.
Sua jornada exterior terminou
em Derbe, tendo sido um dos trabalhos e sofrimentos evangelísticos. Na viagem
de volta, eles se entregaram ao trabalho pastoral, para que as almas dos
discípulos fossem confirmadas e estabelecidas na fé. É digno de nota que eles
não esconderam dos discípulos que o sofrimento estava diante deles, mas disseram
que era inevitável. Eles não disseram que podemos
por meio de alguma tribulação entrar
no Reino, mas que devemos entrar por
meio de muita tribulação.
Esse dito permanece válido
hoje. Podemos tentar evitar a tribulação, mas não conseguimos. Se por covardia
nos afastamos do conflito com o mundo, temos o problema em nossas
circunstâncias cotidianas, ou mesmo no seio da Igreja de Deus. O próprio
apóstolo Paulo escreveu: “a nossa carne
não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro” (2 Co 7:5). Hoje temos a
dizer algo semelhante, só que muitas vezes temos que inverter a última parte e
dizer que temos muitos temores em relação aos muitos combates “por fora”, e consequentemente estamos
muito envolvidos em combates “por
dentro” do círculo dos santos de Deus – isso é, “por fora temores, combates por dentro”. Porém, de uma ou de outra
forma, a tribulação nos pertence.
Na jornada de volta, eles
também descobriram que, entre os convertidos mais velhos, alguns manifestavam o
caráter que os tornava aptos a exercer a supervisão espiritual, e a esses homens
eles ordenaram como anciãos. O discernimento apostólico era necessário para
fazer a escolha, e também um verdadeiro espírito de dependência de Deus – daí a
oração – e uma recusa dos desejos da carne – daí o jejum. E quando os anciãos
eram escolhidos para que todos pudessem reconhecê-los, eles não entregaram o
restante dos crentes nas mãos dos anciãos. Não, eles “os encomendaram ao Senhor, em Quem haviam crido”. Cada crente foi
colocado em direta conexão e comunhão com o Senhor por fé. Os anciãos foram
instituídos, não para obstruir a fé
dos santos, mas para incitá-la a ser mais
real e profunda.
Chipre não foi visitada na
viagem de volta, e de Atália eles tomaram o navio direto para Antioquia; e lá,
a igreja sendo reunida, lhes contaram a história de sua missão. Eles não haviam
sido enviados pela igreja em Antioquia, mas pelo Espírito Santo, mas a igreja
tinha um interesse muito profundo por esses servos que haviam saído do meio
deles. Por sua parte, os servos disseram “quantas
coisas fizera Deus com eles”. Deus era o Trabalhador, e eles, apenas os
instrumentos que Ele tinha o prazer de usar; e foi Deus Quem abriu a porta da
fé aos gentios. A primeira viagem missionária provou isso além de qualquer dúvida.
Contudo, embora fosse assim,
a maneira de seu serviço não estava além de qualquer disputa. Ninguém os
desafiou em Antioquia durante sua longa estadia lá, mas a maioria naquela
igreja era de origem gentílica. Quando alguns homens desceram da área de
Jerusalém, tudo foi mudado pelo ensino de que a observância da circuncisão era
absolutamente necessária para a salvação, e que Paulo e Barnabé não haviam observado
isso. Ao ler a primeira parte de Atos 11, vimos que o grupo judaizante em
Jerusalém havia questionado a ação de Pedro na evangelização dos gentios, na
pessoa de Cornélio e seus amigos. Sua oposição foi rejeitada, e foi aceito que
o evangelho deveria ir para os gentios. O ponto agora levantado era que, mesmo
admitindo isso, eles devem se submeter à circuncisão para serem salvos, e a
circuncisão deve ser “à maneira de
Moisés”, assim, definitivamente, conectando-a com o sistema legal. Esta
nova demanda foi firmemente resistida por Paulo e Barnabé, e finalmente eles e
outros subiram aos apóstolos e anciãos em Jerusalém sobre esta questão.