domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 23


ATOS 23

À medida que abrimos este capítulo, encontramos Paulo em pé diante deste augusto corpo, e poderíamos ter esperado que ele desse o mais impressionante e convincente discurso de sua vida. Em resultado, no entanto, houve um mínimo de testemunho e um máximo de confusão. O comentário inicial de Paulo ficou amargamente ressentido, embora possamos ver que era verdade. Uma consciência “boa” é adquirida e mantida à medida que realizamos com sinceridade e rigidez tudo o que a consciência nos orienta. O fanático com consciência pervertida ou não iluminada faz as coisas mais escandalosas a fim de preservar sua “boa” consciência. Assim Paulo tinha agido em seus dias não convertidos, e desde sua conversão ele tinha com sinceridade observado as advertências de sua consciência, agora iluminada e retificada. Quão claramente isso nos mostra que a consciência em si mesma não é um guia seguro: deve ser iluminada pela Palavra de Deus. Seu valor depende inteiramente da medida em que é controlada pela Palavra.
Irritado com esta declaração de abertura, o sumo sacerdote ordenou que Paulo fosse ferido na boca, violando assim a lei que estipulava que um ofensor só deveria ser espancado depois de um julgamento apropriado, e somente de maneira apropriada (Dt 25:1-3). Essa injustiça manifesta levou Paulo a uma afiada réplica; muito apropriada, mas não admissível como dirigida ao sumo sacerdote. Tendo o conselho sido convocado desta maneira apressada e informal, provavelmente não havia nada em seu traje para distingui-lo; contudo, quando o erro foi apontado, Paulo imediatamente reconheceu sua culpa e citou a passagem que proibia o que ele havia feito. Ele foi incapaz de perguntar com toda a certeza: “quem dentre vós Me convence de pecado?” como o seu Senhor tinha feito.
Houve imediatamente um movimento extremamente astuto da parte de Paulo. Ele se apresentou como fariseu, e como sendo questionado sobre a esperança da ressurreição. Sem dúvida, ele era fariseu por nascimento e formação inicial e, sem dúvida, a ressurreição está no próprio fundamento do evangelho. Sua exclamação teve o efeito que ele previu. Ele ajuntou os fariseus em seu auxílio, enquanto antagonizava violentamente aos saduceus. Eles eram todos homens partidários, vendo tudo do ponto de vista do partido. Assumindo que ele fosse do grupo deles, os fariseus penderam em seu favor. A verdade e a justiça não valiam com eles, mas o partido contava. O mesmo tipo de coisa é muito comum hoje em dia, e os Cristãos não estão imunes a isso; então vamos aceitar o aviso que nos é transmitido aqui.
Por todo o livro de Atos, o partido dos saduceus aparece como o principal opositor do evangelho. Por causa da sua visão materialista, negavam a ressurreição. Aqui temos nosso último vislumbre deles enquanto protestam furiosamente contra a súbita mudança de posição dos fariseus, e usam um tal vigor físico que Paulo poderia ter sido feito em pedaços. Sua violência derrotou seu propósito, pois forçou o tribuno a intervir, e Paulo foi, pela segunda vez, resgatado das mãos de seu próprio povo.
Quão lindo é o versículo 11! Não nos é dito nada sobre os sentimentos de Paulo, mas da mensagem do Senhor para ele de bom ânimo certamente se deduz que ele estava deprimido. Não podemos deixar de pensar que todo esse episódio de Jerusalém havia caído abaixo do alto padrão que caracterizara todo o seu serviço anterior; todavia ele certamente testificou de seu Senhor. Seu gracioso Mestre fixou-se nesse fato, reconheceu-o e disse-lhe que ainda estava por prestar testemunho em Roma – Jerusalém, o centro religioso, Roma, o centro imperial e governamental da Terra daqueles dias. Que conforto para o espírito de Paulo!
No dia seguinte, houve a conspiração da parte de mais de quarenta homens para matar Paulo. A natureza da maldição sob a qual eles se vinculam testemunha a ferocidade de seu ódio, de modo que parece que eles eram do grupo dos saduceus que havia sido privado de sua vítima no dia anterior. Os chefes dos sacerdotes também eram daquele partido, e assim não havia nada contrário envolvido nesse negócio. Eles deveriam fingir que queriam examiná-lo ainda mais, e os quarenta homens estavam prontos para matá-lo.
Novamente encontramos a mão de Deus frustrando suas artimanhas. A história – como sempre nas Escrituras – é contada com brevidade e contenção. Descobrimos que Paulo tinha uma irmã e um sobrinho em Jerusalém, mas como o jovem conseguiu informações sobre o plano que não nos é dito. Deus viu, contudo, que chegou aos seus ouvidos, embora tenha sido traçado apenas algumas horas antes, e também lhe deu coragem para revelá-lo. Por ele ter tido acesso tão fácil ao tio, e que o pedido de Paulo para que o sobrinho tivesse acesso ao tribuno encontrasse uma resposta tão cortês, conseguimos traçar o predomínio de Deus; embora muito provavelmente o comportamento ultrajante dos judeus tenha provocado uma reação na mente do tribuno em favor de Paulo. Como resultado, ele não apenas escutou o jovem, mas o aceitou sem hesitar, e imediatamente tomou medidas para frustrar a conspiração.
O restante do capítulo nos dá um vislumbre da eficiência que marcou o sistema militar romano. O tribuno agiu com a maior prontidão em sua decisão de remeter Paulo ao governador civil em Cesareia. Ele cuidou também de não correr riscos. Ele conhecia a fúria vingativa dos judeus quando questões religiosas estavam em jogo; então ele não cometeu o erro comum de subestimar o perigo. A força militar que tomou conta de Paulo deve ter chegado a praticamente quinhentos homens, uma proporção de doze para um contra possíveis assassinos. Toda consideração foi dada ao prisioneiro, até mesmo ao ponto de fornecer animais para ele montar.

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