domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 15


ATOS 15

Quatorze anos haviam se passado desde a primeira breve visita de Paulo a Jerusalém, três anos depois de sua conversão, conforme registrado em Atos 9:26-29 e em Gálatas 1:18. Todo o capítulo 2 de Gálatas nos fornece uma visão notável do que estava no centro da discussão iniciada em Antioquia e concluída em Jerusalém; nada menos do que a verdade e liberdade do evangelho. Descobrimos também que, embora em nosso capítulo diga “os irmãos resolveram” (TB) que Paulo e outros deveriam ir a Jerusalém, o próprio Paulo subiu “por revelação”; isto é, o Senhor revelou-lhe distintamente que ele deveria ir. Também descobrimos que Paulo foi levado a adotar uma linha muito firme no assunto; não cedendo àqueles que se opunham a ele, “nem ainda por uma hora”; tendo Tito, que era grego, com ele, e recusando-se a ter qualquer coação sobre ele quanto a ele ser circuncidado. A epístola de Gálatas mostra claramente que Paulo estava plenamente seguro de qual era a mente de Deus nesta questão, mas que lhe foi revelado que ele deveria consentir que fosse a questão encaminhada a Jerusalém para ser resolvida ali.
Nisto, é claro, vemos a sabedoria e o poder de Deus. Se Paulo tivesse tentado resolver a questão e agir sobre sua própria autoridade apostólica em Antioquia, poderia facilmente ter havido uma brecha entre ele e os outros apóstolos. Como aconteceu, a decisão em favor da liberdade concedida aos gentios convertidos foi tomada no exato lugar onde ela poderia teria ido para o outro lado se Deus não tivesse controlado por Seu Espírito. Mas ao dizer isso, estamos antecipando o assunto.
Na jornada à Jerusalém, as novas da graça de Deus para os gentios causaram grande alegria aos irmãos, mas em Jerusalém a questão logo foi levantada. Aqueles que contendiam pela observância da lei pelos convertidos dentre os gentios eram crentes que pertenceram à seita dos fariseus. Presentemente eles mantiam seu farisaísmo, embora crentes. Isto ocasionou uma reunião formal dos apóstolos e anciãos para entrarem na questão como diante de Deus.
Houve muita “contenda [discussão – JND], e então Pedro fez um pronunciamento decisivo, referindo-se ao caso de Cornélio, no qual ele próprio estivera envolvido. Ele apontou que o Deus conhecedor do coração deu testemunho a esses gentios convertidos, dando-lhes o Espírito Santo, assim como Ele O havia dado a eles (judeus) no dia de Pentecostes. Esses gentios tinham sido purificados, como a visão do grande lençol indicava, e Deus havia operado a purificação em seus corações por fé, e não como uma simples purificação cerimonial. O fato era que Deus já havia decidido o ponto a princípio pelo que Ele fez no caso de Cornélio. Agora podemos entender por que tanto espaço é dedicado a esse caso em Atos; porque esta é a terceira vez que temos isso diante de nós.
A lei era um jugo que Deus havia colocado sobre o pescoço do judeu, e ambos, eles e seus pais, acharam seu peso esmagador. Esforçar-se para impô-la a pescoços que nunca haviam sido submetidos a ela por Deus, seria tentar o próprio Deus. A graça do Senhor Jesus Cristo era a única esperança de salvação, seja para judeus ou gentios. A maneira como o versículo 11 coloca a questão é bastante notável. Não é, “eles, gentios, serão salvos como nós, judeus”, mas “seremos salvos assim como eles” (TB). A salvação dos gentios não poderia estar em qualquer outro terreno além do da graça; e o judeu deve entrar nesse terreno também.
Não deixemos de perceber o belo contraste entre Mateus 11:29 e o versículo 10 de nosso capítulo. O jugo esmagador da lei não deve ser colocado sobre os nossos pescoços gentios, mas por causa disso, não somos deixados sem jugo algum. Nós tomamos sobre nós o jugo leve e suave do Bendito Jesus, que Se tornou para nós o Revelador do Pai.
Das palavras de Pedro, é evidente quão profundamente ele aprendeu a lição que lhe foi ensinada em conexão com Cornélio. Ele apontou como a coisa havia sido estabelecida ali; e assim o caminho foi limpo para Barnabé e Paulo repetirem como Deus havia trabalhado em poder miraculoso entre os gentios. Barnabé é agora mencionado primeiro, pois evidentemente ele, livre de qualquer ciúme ou inveja, poderia falar mais livremente das coisas feitas, principalmente por meio de Paulo. O testemunho deles foi que o que Deus fez na prática por meio deles concordava com o que Ele estabeleceu em princípio por meio de Pedro.
Tendo Pedro, Barnabé e Paulo acabado seus discursos, falou Tiago. Ele parece ter tido um lugar de responsabilidade especial em Jerusalém, e Gálatas 2:12 indica que ele era notado como tendo opiniões estritas quanto à medida de associação que era permissível na Igreja de Deus entre judeus e gentios. No entanto, ele endossou a declaração de Pedro e, em seguida, apontou que as Escrituras do Velho Testamento a apoiavam. Amós previra como dias viriam quando o Nome de Deus seria chamado sobre os gentios. Se nos voltarmos para sua profecia, podemos ver que ele tinha as condições do Milênio em vista, de modo que Tiago não citou suas palavras como se estivessem sendo cumpridas, mas como estando de acordo com o que acabavam de ouvir.
As palavras em que Tiago resumiu o testemunho de Pedro são dignas de nota especial. “Deus visitou os gentios, para tomar deles [de entre eles – JND] um povo para o Seu Nome. Este é o programa de Deus para a presente dispensação. O evangelho não é enviado entre as nações com o objetivo de convertê-las como nações, e assim fazer da Terra um lugar apropriado para Cristo retornar, mas para converter indivíduos, que assim são tirados das nações para serem Sua possessão especial – “um povo para o Seu Nome”. Este é um fato da natureza mais fundamental. Se estivermos errados neste ponto, estaremos errados quanto ao caráter total da dispensação em que vivemos. As nações somente serão subjugadas quando os juízos de Deus estiverem na Terra, como Isaías 26:9 diz tão claramente. O evangelho sai pela Terra para que uma eleição de judeus e gentios seja convocada; e essa eleição é a Igreja de Deus.
Tendo dito isso, Tiago deu o que ele julgou ser a mente de Deus quanto ao assunto em questão. Sua “sentença” (KJV), ou “julgamento” (JND), era que o jugo da lei não deveria ser colocado no pescoço dos Cristãos gentios, mas que eles meramente deveriam ser instruídos a observar certas restrições em assuntos sobre os quais eles tinham sido notoriamente descuidados. A idolatria e fornicação eram conhecidas como mal, mesmo antes da lei ser dada, e assim também era o comer sangue, como mostra Gênesis 9:4. Deus sabe desde o início tudo o que Ele irá desenvolver com o passar do tempo. O chamamento e eleição dos gentios era novo para eles, mas não para Deus. Era responsabilidade deles seguir em frente com Deus; e quanto a Moisés, as suas palavras eram bem visíveis em todas as sinagogas todos os sábados.
O julgamento que Tiago expressou trouxe todo o conselho com ele. Eles tiveram diante deles primeiro, o testemunho de Pedro sobre o que Deus havia feito em conexão com Cornélio: segundo, por meio de Barnabé e Paulo, um relato dos atos de Deus durante sua jornada missionária: terceiro, a voz das Escrituras, citada por Tiago. O que Deus disse concordava com o que Deus havia feito. Eles haviam se reunido para buscar Sua mente e, por Sua Palavra e Suas ações, eles claramente a discerniram; e todos eram de um acordo. Assim, uma questão difícil, que poderia ter dividido toda a Igreja, foi resolvida e terminou por reuni-los juntamente. Quando Barnabé e Paulo subiram a Jerusalém, foi como homens cujo serviço estava aberto a desafios e suspeitas. Quando saíram, eram portadores de uma carta na qual eram citados como “nossos amados Barnabé e Paulo”.
Eles também foram mencionados como “homens que já expuseram [entregaram – JND] suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Expor a própria vida é arriscar, pois um apostador arrisca seu dinheiro em um arremesso de dados: entregar a própria vida é aceitar a morte como uma certeza e não como um risco. Qualquer pessoa que entrega sua vida dessa maneira deve ser estimado como amado na Igreja de Deus. Esta carta dos crentes judeus aos crentes gentios respira por meio de um espírito de amor e companheirismo e unidade. Eles foram capazes de dizer: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”; Tão certo eram eles que o Espírito Santo havia governado sua decisão. Colocar os gentios sob a lei teria o efeito de “perturbar” suas almas.
Tudo isso é muito importante para nós hoje. O mesmo tipo de problema surgiu entre os Gálatas um pouco mais tarde, e a tentativa de misturar a lei e a graça é frequentemente vista em nossos dias. Não pode ser feita sem destruir a plenitude da graça e subverter as almas daqueles que absorverem tal ensinamento. Os versículos 30-33 do nosso capítulo mostram como a vindicação da graça e a liberdade que ela traz contribuíram para o estabelecimento e o gozo dos crentes gentios em Antioquia. Também Judas e Silas, os delegados de Jerusalém, exerceram seu ministério profético e fortaleceram os irmãos. Isso mostra quão livremente aqueles que tinham o dom eram autorizados a exercê-lo em qualquer lugar, e na presença de homens cujo dom pode ser em muitos aspectos superior ao seu próprio – pois Paulo e Barnabé estavam agora de volta a Antioquia.
Pouco depois, Paulo propôs a Barnabé que eles fizessem outra jornada com o trabalho pastoral em vista. As palavras do versículo 36 respiram o espírito de um verdadeiro pastor, que deseja ver como os crentes estão se saindo. O bem-estar de suas almas é o grande ponto diante dele. O triste foi que esta excelente proposta tornou-se a ocasião de uma brecha entre esses dois servos devotados do Senhor. Barnabé propôs que Marcos, seu sobrinho, voltasse a acompanhá-los. Paulo, lembrando-se de sua deserção inicial, foi contra, e essa diferença de julgamento gerou um sentimento tão caloroso que eles se separaram, incapazes de trabalhar juntos. Barnabé foi para Chipre, onde sua primeira jornada havia começado, e Paulo para a Ásia Menor, onde aquela jornada se estendera. Paulo encontrou um novo companheiro em Silas e partiu depois que os irmãos os encomendaram à graça de Deus. Parece que Barnabé saiu apressadamente, antes que os irmãos tivessem tempo de orar por ele.
Fica-nos mal julgar esses servos eminentes de nosso Senhor, mas o registro certamente parece indicar que Barnabé foi influenciado demais pelo relacionamento natural, e que a simpatia dos irmãos estava com Paulo. Ainda assim, a sensação de calor e disputa estava entre eles, e o Espírito de Deus não esconde isso. Não devemos conceber Paulo como outro além de um homem de paixões semelhantes a nós mesmos. Ele não era perfeito, como era seu Senhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário