terça-feira, 28 de maio de 2019

ATOS 9


ATOS 9


Saulo estava ainda cheio de zelo furioso e perseguidor quando o Senhor o interceptou no caminho de Damasco, e Se revelou a ele em um resplendor de luz celestial, que brilhou não apenas ao redor dele, mas também em sua consciência. Podemos discernir na narrativa as características essenciais que marcam toda conversão verdadeira. Havia a luz que penetra na consciência, a revelação do Senhor Jesus ao coração, a convicção do pecado nas palavras: “Por que Me persegues?” e o colapso de toda a oposição e importância própria nas humildes palavras: “Senhor, que queres que eu faça?” (AIBB) Quando Jesus é descoberto, quando a consciência é convencida do pecado, quando há humilde submissão a Jesus como Senhor, então há uma conversão verdadeira, embora haja muito que a alma ainda precise aprender. Os tratamentos do Senhor eram intensamente pessoais para Saulo, pois seus companheiros, embora maravilhados, não entendiam nada do que havia acontecido.
Por essa tremenda revelação do Senhor, Saulo estava literalmente cego para o mundo. Levado para Damasco, ele passou três dias que nunca esqueceria; dias em que o significado da revelação aprofundou em sua alma. Estando cego, nada distraiu sua mente, e seus pensamentos nem foram desviados para comida ou bebida. Como preliminar ao seu serviço, Ezequiel sentou-se entre os cativos em Quebar e ficou “ali sete dias, pasmado no meio deles” (Ez 3:15). Saulo ficou espantado em Damasco por apenas três dias, mas suas experiências foram de uma ordem muito mais profunda. Podemos ter um vislumbre delas lendo 1 Timóteo 1:12-17. Ele ficou pasmado com sua própria culpa colossal como o “principal” dos pecadores, e ainda mais com a excedente abundância da graça do Senhor, de modo que ele obteve misericórdia. Naqueles três dias ele evidentemente passou por um processo espiritual de morte e ressurreição. As fundações foram colocadas em sua alma daquilo que mais tarde ele expressou assim: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).
Durante esses três dias Saulo teve uma visão de um homem chamado Ananias entrando e colocando as mãos sobre ele para que pudesse receber sua visão, e no final desses dias a visão se materializou. Ananias chegou, fazendo o que lhe foi dito, e dizendo a Saulo que ele era apenas o mensageiro do Senhor – Jesus mesmo, e que ele não apenas iria receber sua visão, mas que seria cheio do Espírito Santo. Nesse tempo Saulo era um crente, pois o Espírito é dado apenas para os crentes.
O trabalho essencial na alma de Saulo foi realizado, um servo humano é usado pelo Senhor. Duas coisas sobre esse servo são dignas de nota. Primeiro, ele era apenas “um certo discípulo”, evidentemente sem destaque especial. Era apropriado que o único homem que de alguma forma ajudasse Saulo fosse muito humilde. Saulo tinha sido muito proeminente como adversário e logo seria muito proeminente como servo do Senhor. Ele foi ajudado por um discípulo que era indistinto e reservado, mas que estava perto o suficiente do Senhor para receber Suas instruções e conversar com Ele. Muitas vezes é assim nos caminhos de Deus. Em segundo lugar, Ananias habitava em Damasco, e assim foi um daqueles contra os quais Saulo estava respirando ameaças e mortes. Então, um daqueles a quem Saulo teria matado foi enviado para chamá-lo, “irmão Saulo”, para abrir os olhos, e para que ele pudesse ser cheio do Espírito Santo. A maldade de Saulo era correspondida com bondade desta maneira constrangedora.
Os dias de cegueira de Saulo, tanto física como mental, estavam agora terminados: ele foi batizado em Nome daqu’Ele que antes desprezava e odiava e se relacionava com as próprias pessoas que ele pensara destruir, pois ele havia se tornado um deles. Ele havia sido chamado como “um vaso escolhido”, de maneira tão direta que seu serviço começou imediatamente. Jesus havia sido revelado a ele como o Cristo, e como o Filho de Deus, então ele O pregou assim e provou pelas Escrituras que Ele era o Cristo, para confundir seus antigos amigos. Os amigos, porém, rapidamente se tornaram seus amargos inimigos e tomaram conselho em matá-lo, mesmo que não muito antes ele ter pensado em matar os santos. Ele havia planejado entrar em Damasco com certa dose de pompa como aquele que vinha com plenos poderes da hierarquia em Jerusalém. Na verdade, ele entrou como um homem humilde e cego; e a deixou de maneira constrangedora – encolhido num cesto, como um fugitivo do ódio judaico.
Desde o início, Saulo teve que provar por si mesmo as mesmas coisas que estivera infligindo aos outros. Chegando de volta a Jerusalém, os discípulos desconfiaram dele, como era muito natural, e a intervenção de Barnabé era necessária antes que eles o recebessem. Barnabé pôde atestar a intervenção do Senhor e a conversão de Saulo, e agiu como uma carta de recomendação dele. Em Jerusalém, Saulo testemunhou corajosamente e entrou em conflito com os gregos, possivelmente os mesmos homens que tinham sido tão responsáveis ​​em relação à morte de Estêvão. Agora eles matariam o homem que segurou as roupas daqueles que mataram Estêvão. Em tudo isso podemos ver o funcionamento do governo de Deus. O fato de o Senhor ter demonstrado uma misericórdia tão surpreendente em sua conversão, não o eximiu de colher dessa maneira governamental aquilo que ele havia semeado.
Ameaçado novamente de morte, Saulo teve que partir para Tarso, sua cidade natal. Pode-se imaginar de onde veio aquela visita à Arábia, a qual ele escreve em Gálatas 1:17. Achamos que foi provavelmente durante os “muitos dias”, dos quais fala o versículo 23 do nosso capítulo, pois ele nos diz que retornou “outra vez a Damasco”. Se isto é assim, a fuga de Damasco sobre o muro ocorreu após seu retorno da Arábia. Seja como for, foi a sua partida para a distante Tarso, que inaugurou o período de descanso e edificação para as igrejas, o que levou a uma multiplicação de seus números.
No versículo 32, voltamos às atividades de Pedro, para que possamos ver que o Espírito de Deus não deixou de trabalhar por meio dele enquanto trabalhava tão poderosamente em outros lugares. Houve, em primeiro lugar, um grande trabalho em Lída por meio do levantamento do homem paralisado. Então, em Jope, Pedro foi usado para trazer Dorcas de volta à vida, e isso levou muitos naquela cidade a crer no Senhor. Isso também levou Pedro a ficar muito tempo na casa de Simão, o curtidor.
Enquanto isso, também o Espírito de Deus estivera em ação no coração de Cornélio, o centurião romano, o qual era marcado como fruto da piedade e de temor de Deus, com esmola e oração a Ele. Agora chegara a hora de trazer este homem e seus amigos de mesma opinião para a luz do evangelho. Ora a Pedro foram dadas “as chaves do reino dos céus” (Mt 16:19); assim como ele usou as chaves no dia de Pentecostes para admitir a eleição entre os judeus, agora é sua vez de admitir esta eleição entre os gentios. Este capítulo relatou como Deus chamou e converteu o homem que seria o apóstolo dos gentios, o próximo conta como Pedro foi libertado de seus preconceitos e levou a abrir a porta da fé aos gentios, abrindo assim o caminho para o ministério subsequente do apóstolo Paulo.

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