ATOS 10
A primeira coisa no capítulo
é o ministério angélico a Cornélio, pelo qual ele é direcionado a enviar homens
a Jope e chamar a Pedro. Nenhuma dificuldade surgiu aqui, pois Cornélio
imediatamente fez o que lhe foi dito. O anjo, como notamos, não encurtou uma
longa história dizendo por si mesmo a mensagem a Cornélio. A mensagem da graça só pode ser
corretamente contada por um homem que ele mesmo seja um objeto da graça. Então, Pedro deve ser chamado. Deus tinha respeito
pelas orações e esmolas de Cornélio, pois expressavam a sincera busca de seu
coração por Deus. Se, depois de ouvir o evangelho, ele tivesse ignorado sua
mensagem e continuado com suas orações e esmolas, teria sido um assunto
diferente. Então elas não teriam “subido
para memória diante de Deus”.
Em seguida vem o relato dos tratamentos
preliminares de Deus com Pedro por meio de um êxtase. Havia mais dificuldade
aqui, pois ele ainda estava preso aos seus pensamentos judaicos, e destes ele
tinha que ser libertado. Os ouvintes estavam prontos, mas o pregador tinha que ser
aprontado para partir. O registro é que ele “subiu ao terraço para orar”, consequentemente ele estava na
atitude correta para receber a orientação necessária. Não havia apenas um que
era buscador em oração, mas também um
que era servidor em oração. Daí
resultados notáveis aconteceram.
O grande lençol que Pedro viu
descendo de um céu aberto e que continha em suas dobras todos os tipos de
criaturas limpas e impuras, foi recebido acima no céu. Pedro foi convidado a
satisfazer sua fome tomando dele, e ele poderia ter feito isso selecionando um
animal limpo para sua comida. No entanto, eles estavam todos misturados, então Pedro
recusou. Foi-lhe dito, no entanto, que Deus poderia purificar o impuro: que, na
verdade, Ele o fizera e o que Ele limpara não era para chamar de comum. Isso
aconteceu três vezes, de modo que o significado disso pôde aprofundar na mente
de Pedro. Podemos ver na visão uma figura apta do evangelho, que vem de um céu
aberto, que abraça em suas dobras uma multidão, entre as quais se encontram
muitos gentios, que eram cerimonialmente impuros; mas todos eles purificados
pela graça e finalmente levados para o céu.
A princípio, Pedro duvidou do
significado de tudo isso, pois preconceitos antigos morrem lentamente; mas,
enquanto continuava a ponderar, a situação foi esclarecida com a chegada dos
mensageiros de Cornélio. O Espírito instruiu-o claramente a ir com eles e,
assim, levar o evangelho ao romano que buscava. O “impuro” gentio deveria ser salvo.
Em Atos 8, vimos com que
precisão Deus planejou a interceptação da carruagem etíope por Filipe. Agora
vemos os servos de Cornélio chegando no preciso momento para assentar as
instruções divinas à mente de Pedro. A coisa era de Deus, e Pedro foi
irresistivelmente levado adiante.
Chegando a Cesareia, tudo
estava pronto na casa de Cornélio. Ele também estava consciente de que a coisa
era de Deus, e assim ele não teve nenhuma dúvida quanto a Pedro vindo, e ele
convocou um número de pessoas que, como ele, buscavam direção de Deus. O
versículo 25 nos revela o estado de espírito reverente e submisso que marcou
Cornélio. Ele levou sua reverência longe demais; ainda que não fosse pouca
coisa que o arrogante romano caísse aos pés de um humilde pescador galileu.
Pedro encontrou-se agora na
presença de um grande número de gentios, e suas palavras de abertura a Cornélio
mostram como ele aceitou a instrução transmitida a ele pela visão. A resposta
de Cornélio revela como ele simplesmente acreditou na mensagem do anjo e
prontamente obedeceu a ela. Ele havia aceitado a gentil repreensão de Pedro
quando afirmou: “Eu também sou homem”, embora soubesse que Deus estava trabalhando e que a reunião
seria realizada como que em Sua presença. Ele, portanto, colocou a si mesmo e toda
a audiência como “aqui na presença de
Deus” (ARA), pronto para ouvir do pregador “tudo o que te foi ordenado por Deus”. Eles estavam prontos para
ouvir tudo. Muitas pessoas não se importam em ouvir coisas agradáveis e
reconfortantes, enquanto se opõem aos anúncios mais severos que o evangelho
faz.
Pedro abriu seu discurso com
mais um reconhecimento de que agora ele percebia que Deus teria respeito a toda
alma que sinceramente O buscasse, de acordo com a luz que ele pudesse ter, não
importando a que nação ele pertencesse. A graça de Deus estava agora fluindo
ricamente para além das fronteiras de Israel, embora a palavra que Deus enviara
em conexão com Jesus Cristo, pessoalmente presente entre os homens, tivesse
sido dirigida apenas aos filhos de Israel. Ainda assim, aquela palavra havia
sido bem publicada na Galileia e na Judeia, e Cornélio e seus amigos sabiam
disso, sendo residentes naquelas partes. As coisas que aconteceram na vida e na
morte de Jesus Nazareno eram bem conhecidas por eles.
Então Pedro poderia dizer: “Esta palavra, vós bem sabeis”. Havia, no entanto, coisas que eles não sabiam; e são esses assuntos
essenciais que ele passou a desvendar. A morte de Jesus foi um espetáculo
público e todos sabiam disso. Sua ressurreição havia sido testemunhada por
poucos e o relato comum a negava. A negação tinha o apoio das autoridades
religiosas, como aprendemos em Mateus 28:11-15. Por isso Pedro agora anunciou a
extraordinária notícia de que o crucificado Jesus havia sido ressuscitado de
entre os mortos por um ato de Deus, que ele e seus companheiros apóstolos
realmente O viram, comeram com Ele, e receberam d’Ele uma ordem sobre o que
deveriam pregar aos outros. Nos versículos 42 e 43, Pedro anunciou o que lhes
foi ordenado fazer.
Esses versículos nos dão os
dois temas de sua pregação, dois anúncios que devem ter chegado com grande
poder a seus ouvintes gentios. Primeiro, o Jesus, a Quem os homens crucificaram,
é ordenado por Deus para ser o Juiz tanto dos vivos como dos mortos. Sua
crucificação foi um ato de judeus e gentios. Cornélio devia estar familiarizado
com os detalhes, e conhecia alguns que participaram dela, se é que, na verdade,
ele mesmo não estivesse envolvido. Ele estava informado de Sua vergonha e
desonra e aparente fracasso. Bem, o desprezado Jesus deve vir no devido tempo
como o Juiz universal. O destino de todos os homens está em Suas mãos. Que
declaração surpreendente! Calculado para destruir todos os adversários com
terror!
Segundo, antes que este Juiz
Se assente no trono do julgamento, todos os profetas testificam que há perdão
oferecido em Seu nome. Esse perdão é recebido por “todo aquele que n’Ele crer”. Perdão por meio do Nome do Juiz!
Poderia alguma coisa ser mais estável e satisfatória do que isso? O Juiz Se
tornou o Fiador para os homens pecadores e, portanto, o crente n’Ele recebe a
remissão de pecados, antes que o dia
amanheça, quando serão realizados os grandes julgamentos para os vivos e para
os mortos.
Cornélio e seus amigos creram. A fé estava presente em seus
corações antes mesmo de ouvirem a mensagem. Ao ouvi-la, a fé deles
imediatamente a abraçou, e Deus sinalizou esse fato instantaneamente
concedendo-lhes o dom do Espírito Santo. Sua fé saltou como o relâmpago e foi
imediatamente seguida pelo estrondo do Espírito Santo. O Espírito foi derramado
sobre esses gentios crentes, assim como Ele havia sido no princípio sobre os
judeus crentes, seguido com o sinal das línguas. Os dois casos eram idênticos,
e desta forma “os fieis que eram da
circuncisão” que tinham vindo com Pedro tiveram todas suas dúvidas
dissipadas. Não havia nada a fazer a não ser batizar esses gentios. Se Deus os havia
batizado pelo Espírito no um só corpo, os homens não poderiam negar a eles a
entrada entre os crentes na Terra pelo batismo com água.
Existe exatamente essa
diferença entre Atos 2 e este capítulo, que lá os que perguntavam tiveram que
se submeter primeiro ao batismo com água, e então deveriam receber a promessa
do Espírito. Eles tiveram que cortar seus elos com a massa rebelde de sua nação
antes de serem abençoados. Aqui Deus deu o Espírito primeiro, pois se Ele não
tivesse feito isso, os preconceitos judaicos teriam levantado um muro contra o
batismo e a recepção deles. Assim, Deus Se adiantou a eles: na verdade, todo o
capítulo nos mostra como essa abertura da porta da fé para os gentios foi o movimento
da mão de Deus no cumprimento de Seu propósito. Também nos mostra que nenhuma
lei rígida pode ser estabelecida quanto à recepção do Espírito. É sempre o resultado de fé, mas pode ser com ou sem o batismo, com ou sem a imposição de mãos apostólicas –
veja Atos 19:6.
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