Este capítulo abre com a
agitação que foi criada em Jerusalém por esses acontecimentos em Cesareia.
Aqueles que tinham fortes preconceitos judaicos contenderam com Pedro sobre
suas ações. Isso levou Pedro a repassar o assunto desde o princípio e
apresentá-lo em ordem, para que todos pudessem ver que a coisa era manifestamente
de Deus. É notável que o Espírito de Deus tenha pensado que seria bom registrar
o próprio relato de Pedro, bem como o que Lucas nos deu como historiador, no
capítulo anterior. Isso enfatiza a importância do que aconteceu de forma tão privada
na casa do oficial romano. Na verdade, foi um evento que marcou época.
Na narrativa de Pedro,
naturalmente temos o lado dele da história, e não o de Cornélio. No entanto,
ele nos fornece um detalhe sobre a mensagem do anjo a Cornélio, que não é
mencionado no capítulo anterior. Pedro deveria lhe dizer “palavras”, pelas quais ele e toda a sua casa deveriam ser “salvos”. A lei exige obras dos homens: o
evangelho traz palavras aos homens, e essas palavras os levam à salvação, se
crerem. Note também que eles não foram “salvos”
até que ouviram o evangelho, e creram nele; embora sem dúvida houvesse uma obra
de Deus no coração dessas pessoas, que as levou a buscá-Lo.
Nos versículos 15 e 16, vemos
que Pedro reconheceu, no dom do Espírito a Cornélio, o batismo do Espírito,
suplementar àquele que fora realizado em Jerusalém no princípio. Era Deus
fazendo aos gentios crentes o que Ele havia feito anteriormente aos judeus
crentes. Deus colocou os dois no mesmo patamar e quem era Pedro ou qualquer
outra pessoa para resistir a Deus?
Este relato claro e direto dado por Pedro
silenciou toda a oposição. De fato, a graça trabalhou de tal forma nos corações
daqueles que se opuseram, que eles não apenas reconheceram que Deus havia
concedido aos gentios “arrependimento
para a vida”, mas eles glorificaram a Deus por fazer isso. Eles atribuíram
o arrependimento ao dom de Deus, assim como fé é atribuída ao Seu dom em
Efésios 2:8.
Com o versículo 19, deixamos
Pedro e retomamos o fio de Atos 8:1. Nesse meio tempo, tivemos o trabalho
evangelístico de Filipe, a conversão de Saulo, que é o apóstolo dos gentios e
as atividades de Pedro, culminando em sua abertura formal da porta da fé aos
gentios. Descobrimos agora que enquanto a massa de crentes espalhados pela
perseguição levava o evangelho com eles, mas pregavam-na apenas aos judeus,
havia alguns de Chipre e Cirene que chegaram a Antioquia e começaram a pregar
aos gregos, declarando Jesus como Senhor – porque de fato Ele é o Senhor de TODOS. Esses homens, então,
começaram a evangelizar os gentios – exatamente a ocupação especial que o
Espírito Santo tinha agora em mãos. Como consequência surpreendentes resultados
surgiram. A mão de Deus trabalhava com eles, embora fossem homens sem nenhuma
nota especial, e uma grande multidão creu e se converteu ao Senhor.
Assim, a primeira igreja
gentia foi formada, e o trabalho atingiu rapidamente dimensões que atraem a
atenção da igreja em Jerusalém, e os levou a enviar Barnabé para visitá-los.
Barnabé veio e imediatamente reconheceu uma verdadeira obra da graça de Deus.
Em vez de ficar com ciúmes de que outros, além dele ou dos líderes em
Jerusalém, tivessem sido usados por Deus para isso, ele ficou contente e
promoveu o trabalho por meio de suas exortações. Ele era um homem de bem e
cheio do Espírito Santo e de fé, e por isso não se importava com sua própria
reputação, mas com a glória de Cristo. Sua exortação era de que, como haviam
começado com fé no Senhor,
continuassem a se apegar ao Senhor
com propósito de coração. A obra da graça de Deus era o que importava a
Barnabé, não importando por quem fosse efetuada. Quão bom teria sido se o
espírito de Barnabé tivesse prevalecido durante toda a história da Igreja.
Outra coisa caracterizou este
bom homem, Barnabé, foi que ele evidentemente reconheceu suas próprias
limitações. Ele sentiu que outro que não ele mesmo seria aquele a ser especialmente
usado para instruir esses gentios convertidos, e assim ele partiu para buscar Saulo.
Barnabé parece ter sido o exortador e Saulo o mestre, e durante um ano inteiro
eles se entregaram a esse trabalho. E em Antioquia, bastante significativo, o
nome “Cristão” surgiu pela primeira
vez. Deve-se notar como o senhorio de Cristo é enfatizado neste relato do
trabalho em Antioquia; e onde Cristo é, de coração sincero e consistente, reconhecido
como Senhor, ali os crentes se comportam de tal maneira que fazem com que os
espectadores a nomeá-los Cristãos. Ao chegarmos em Atos 26, descobrimos que
Agripa conhece a denominação. Em 1 Pedro 4:16, encontramos o Espírito de Deus
aceitando a denominação como adequada.
No final deste capítulo,
temos permissão para ver como livremente os servos de Deus, como os profetas,
se moviam entre as várias igrejas. Os dons, concedidos à Igreja, devem ser
usados de maneira universal e não meramente local. E aconteceu que, por meio
de Ágabo, um profeta de Jerusalém, a igreja de Antioquia foi informada de uma
fome vindoura e tomou medidas com antecedência para atender às necessidades dos
santos na Judeia. Assim cedo os crentes gentios tiveram oportunidade de
expressar amor pelos seus irmãos judeus.