domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 17


ATOS 17

Lucas não nos dá detalhes sobre o que aconteceu em Anfípolis e Apolônia, mas transmite os acontecimentos em Tessalônica. Neste capítulo, notamos que o pronome “nós” não é usado; então possivelmente Lucas, não estando tão envolvido como Paulo e Silas estavam nos distúrbios em Filipos, permaneceu ali para ajudar os que haviam se convertido ainda mais.
Paulo primeiro se dirigiu aos judeus em sua sinagoga, como era seu costume. O versículo 3 nos dá a linha em que ele se aproximou deles. Ele provou pelas próprias Escrituras que o Messias, quando viesse, deveria sofrer a morte e ressuscitar dos mortos. Estabelecido isto, seria simples apontar para Jesus como inquestionavelmente sendo o Messias. Então, em um versículo, de uma forma resumida, nos é dada a coisa toda. Por mais que os discursos tenham se prolongado, a questão toda é resumida nessas poucas palavras, e elas servem de orientação para todos os que se aproximariam do judeu hoje. Nem todos criam, mas alguns sim, e também muitos prosélitos gregos e algumas das principais mulheres.
Em Filipos, o comportamento desordenado originou-se de gentios decepcionados pelo fim de seus lucros; em Tessalônica, judeus incrédulos estavam no fundo de uma oposição e desordem ainda pior. Ao estigmatizar Paulo e Silas como: “estes que têm alvoroçado o mundo”, eles involuntariamente rendaram um tributo ao grande poder do evangelho, pregado com o Espírito Santo enviado do céu. Eles podem se opor, mas não podem impedir seu avanço.
O serviço de Paulo em Tessalônica foi abreviado por esse motim, pois ele serviu no espírito da instrução do Senhor registrada em Mateus 10:23. Assim, um movimento foi feito agora em direção a Bereia, onde os judeus mostraram um espírito muito diferente. Eles tinham uma mente aberta, que os caracterizou como “mais nobres”, e quando Paulo lhes mostrou o que as Escrituras haviam predito, eles as examinaram com diligência e, com isso, muitos creram. Uma mente que está pronta e livre de preconceitos, e que de bom grado se curva à Escritura, é de fato uma coisa nobre.
Tal hostilidade à Palavra de Deus marcou os judeus tessalonicenses, porém, eles perseguiram Paulo a Beréia e, em face de mais problemas, Paulo fugiu para Atenas, despistando seus perseguidores por uma simples artimanha. Silas e Timóteo permaneceram em Beréia, pois evidentemente a animosidade era agora especialmente dirigida contra Paulo. Assim, aconteceu sua visita a Atenas, o grande centro da cultura e da sabedoria gregas, Paulo estava sozinho no que dizia respeito a seu serviço.
Atenas era o grande centro de aprendizado e filosofia gregos; também estava cheio de ídolos. A mais alta cultura humana e a mais grosseira idolatria podem coexistir de forma bastante amigável. E Paulo andou no meio desse estado de coisas, e a visão disso dolorosamente excitou seu espírito. Embora ainda sem seus companheiros, ele não podia descansar diante daquela situação, e assim começou a testemunhar tanto aos judeus como aos gentios. Deste modo, certos filósofos tiveram a atenção atraída para ele, e esses homens, embora pertencessem a escolas opostas e tratando-o com desprezo, tiveram sua curiosidade suficientemente despertada para desejar ouvir mais. Assim aconteceu que lhe foi dada a oportunidade de falar diante de uma assembleia dos intelectos mais cultos da época.
É-nos dado um vislumbre, nos versículos 18-21, das condições que prevaleceram em Atenas. Havia imensa atividade mental e uma insaciável investigação de novas ideias. Eles passavam o tempo falando ou ouvindo “alguma novidade”; não, é claro, apenas fofoca ou tagarelice, mas as mais recentes noções filosóficas. Por isso, a pregação de “Jesus e a ressurreição” feita por Paulo pareceu-lhes uma grande novidade ligada a algumas divindades, para as quais até então haviam sido estranhos. Os epicureus acreditavam que o bem maior seria encontrado na gratificação dos desejos da pessoa, e os estóicos diziam que esse bem maior estava em reprimi-los, mas quais eram essas novas ideias?
Paulo abriu seu discurso no Outeiro de Marte (o significado de Aerópago), dizendo-lhes que eram muito “supersticiosos” ou “entregues à adoração demoníaca” (JND). Entre seus muitos santuários, eles tinham até um altar dedicado “ao deus desconhecido”, para que não houvesse algum demônio, desconhecido deles, que precisasse ser aplacado. Paulo se apegou a isso e fez dele o tema de seu discurso, pois era perfeitamente verdade que o Deus vivo era completamente desconhecido para eles. Paulo anunciou a eles o Deus que eles não conheciam; e se examinarmos o breve relato de seu discurso, podemos ver como ele colocou Deus diante deles. Quanto às coisas de Deus, esses atenienses cultos eram simplesmente pagãos; então aqui somos instruídos como o evangelho deve ser apresentado aos pagãos.
Paulo começou apresentando-o como o Deus da criação. Isso está na base de tudo. Se não O conhecemos assim, definitivamente não O conhecemos. É por isso que a teoria da evolução funciona tão desastrosamente. Sua principal atração para muitos é que ela permite dispensar completamente a Deus, ou pelo menos empurrá-Lo para tão longe – a um remoto segundo plano, para torná-Lo indigno de consideração. Paulo O trouxe para frente da cena que apresentou, Ele não apenas fez o mundo, mas todas as coisas que ele contém. Ele não pode estar contido nas construções dos homens, nem adorado como se precisasse de alguma coisa das mãos dos homens. Ele é o próprio Dador da vida e todas as coisas. Todos os homens são Suas criaturas, feitas de um só, e seus tempos e limites são determinados por Ele.
Permaneceram alguns lampejos de luz quanto a isso entre eles, e Paulo foi capaz de citar alguns de seus próprios poetas como tendo falado da humanidade como sendo a descendência de Deus. Nisso eles estavam certos. Somente pela fé em Cristo Jesus nos tornamos filhos de Deus, mas todos os homens são Seus geração como Suas criaturas. Sendo assim, não devemos conceber Deus como algo menor que nós mesmos ou como obra de nossas próprias mãos; e devemos ser aqueles que buscam por Ele. Sua imanência[1] é reconhecida nas palavras: “n’Ele vivemos, e nos movemos, e existimos”; Paulo, porém, pregou-O como o Único Transcendente[2], que é o Senhor do céu e da Terra.
Mas esse Deus da criação é também o Deus de tolerância. Os homens não gostaram de reter Deus em seu conhecimento, e assim as nações haviam caído na ignorância de Deus. Por alguns séculos, os atenienses se orgulharam de sua cultura e aprendizado, embora durante todo o tempo eles estivessem nos “tempos da ignorância – da ignorância de Deus – e Paulo lhes disse isso tão claramente. No entanto, Deus “tolerou” ou não levou “em conta” essa ignorância, agindo com “paciência [tolerância – TB] (Rm 3:5), em vista daquilo que Ele iria fazer por meio de Cristo.
Mas agora Cristo é vindo e Deus Se proclama como o Deus de justo julgamento. Ele designou o dia em que tomará as rédeas do governo pelo Homem de Sua escolha, e toda a Terra será julgada e administrada em justiça. Em vista disso, o arrependimento é a única coisa certa para os homens injustos, onde quer que estejam. É a única coisa certa, e Deus ordena isto.
A garantia da vinda deste dia do justo julgamento foi dada na ressurreição do Homem da escolha de Deus. Assim, finalmente, Paulo colocou Deus como o Deus da ressurreição. Algo inteiramente fora de todos os cálculos humanos havia ocorrido. Jesus havia sido ressuscitado da morte na qual o homem havia O entregado! Paulo começou seu trabalho em Atenas anunciando Jesus e a ressurreição entre os trabalhadores do mercado; ele terminou com o mesmo tema quando falou aos pensadores no Outeiro de Marte (Aerópago).
Seus cérebros ocupados giravam no mundo do homem e, portanto, a ressurreição estava bem fora de seu campo de visão. Para muitos deles parecia um absurdo, e eles zombavam. Outros manifestaram algum interesse, mas adiaram considerações adicionais, por não verem urgência no assunto. Alguns, no entanto, creram, tanto homens como mulheres, e estes se juntaram a Paulo. Essas três classes geralmente aparecem quando o evangelho chega a qualquer lugar: há os escarnecedores, os procrastinadores e os crentes.
A permanência de Paulo em Atenas foi curta: ele não esperou mais por seus companheiros, mas seguiu para Corinto. Portanto, é provável que aqueles que disseram: “Acerca disso te ouviremos outra vez” não tiveram oportunidade de fazê-lo.




[1] N. do T.: Imanência é a qualidade ou característica do que é inerente ao mundo material e concreto. É o antônimo de transcendência
[2] N. do T.: Transcendência é a qualidade ou característica daquilo que excede ou está acima dos limites normais; muito elevado; sublime.

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