terça-feira, 28 de maio de 2019

ATOS 5


ATOS 5


Este capítulo abre com um incidente solene que destaca, com um surpreendente realce, um último recurso que caracterizou a Igreja primitiva: houve o exercício de uma disciplina santa pelo poder de Deus. O caso de Ananias e Safira foi excepcional, sem dúvida. Quando Deus institui algo novo, parece ser o Seu modo de assinalar Sua santidade, fazendo um exemplo de qualquer um que a desafie. Ele fez isso com o homem que violou o sábado no deserto (Nm 15:32-36), e também com Acã, quando Israel começava a entrar em Canaã (Js 7:18-26), e assim com Ananias e sua esposa aqui. Mais tarde, na história de Israel, muitos violaram o sábado e tomaram as coisas babilônicas proibidas sem incorrer em penas similares, assim como durante a história da Igreja muitos deles agiram em mentiras ou disseram mentiras sem cair mortos.
O que estava por trás da mentira nesse caso eram os males gêmeos da cobiça e da vaidade. Ananias queria manter parte do dinheiro para si e, ainda assim, ganhar a reputação de ter dedicado tudo ao Senhor, como Barnabé fizera. Tal é a mente da carne, mesmo em um santo. Quantos de nós nunca tiveram obras malignas semelhantes em seus corações? Mas neste caso, Satanás estava trabalhando, e por meio do infeliz casal, ele emitiu um desafio direto ao Espírito Santo presente na Igreja. O Espírito Santo aceitou o desafio e demonstrou Sua presença dessa maneira dramática e inconfundível. Pedro reconheceu que esta era a posição, quando ele falou a Safira de suas ações como um acordo “para tentar o Espírito do Senhor”.
Como resultado, o desafio de Satanás foi transtornado para servir aos interesses do Senhor e de Seu evangelho, como mostram os seguintes versículos. Em primeiro lugar, este episódio colocou grande temor sobre todos que ouviram falar dele, e mesmo sobre a própria Igreja. Aqui está indicado algo que faz muita falta na Igreja hoje – para não falar dos homens em geral. O temor de Deus é algo muito saudável nos corações dos santos e é bastante compatível com um profundo sentimento do amor de Deus. Paulo tinha esse temor à luz do tribunal (2 Co 5:10-11), embora que para o incrédulo isso vá além do temor, para o inegável terror. Um temor piedoso, brotando de um profundo senso da santidade de Deus, deve ser muito desejado.
Então, como a primeira parte do versículo 12, e os versículos 15 e 16 mostram, não houve afrouxamento no poder miraculoso de Deus, ministrado por meio dos apóstolos. De fato, o poder aumentou, de modo que a mera sombra de Pedro provocou prodígios. Dentro de um parêntese (vs. 12-14 – JND e KJV), temos a afirmação de que, depois de tal acontecimento, os homens tinham medo de se unirem à companhia Cristã; no entanto, essa não foi verdadeiramente uma perda, pois impediu qualquer coisa com a natureza de um movimento em massa, que teria varrido uma grande quantidade de falsidade para dentro da Igreja. A verdadeira obra de Deus não foi impedida, como diz o versículo 14. Pessoas podem ser adicionadas à Igreja, sendo meros professos, mas ninguém é “agregado ao Senhor” (ARA), exceto aqueles em quem há uma obra vital de Deus. Assim, o triste negócio de Ananias e Safira foi suplantado para bem, embora que para um observador superficial pudesse parecer um duro golpe para as perspectivas da Igreja.
Tendo Deus trabalhado desta maneira impressionante para abençoar, vemos no versículo 17 o próximo contra-ataque de Satanás. Os sacerdotes e saduceus, cheios de indignação, prendem-nos novamente. Isto é refutado por Deus ao enviar um anjo para abrir as portas da prisão e libertá-los. No dia seguinte, sendo descoberta a liberdade deles, são presos novamente, mas de maneira muito mais suave. As palavras dos sacerdotes confessam o poder com o qual Deus estivera em ação, pois admitem que Jerusalém havia sido enchida com a doutrina; todavia, manifestam a terrível dureza de seus corações ao dizer: “quereis lançar sobre nós o sangue desse Homem”. Ora, eles mesmos disseram: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25). A verdade era que Deus iria levar adiante essa palavra deles e cumpri-la.
A resposta de Pedro foi curta e simples. Eles iriam obedecer a Deus e não aos homens. Então Pedro novamente resumiu seu testemunho e o repetiu. O Espírito Santo e os apóstolos foram testemunhas da ressurreição de Jesus, a Quem eles mataram. Mas Deus O havia exaltado não para ser naquele momento o Juiz, proferindo a condenação sobre suas cabeças culpadas, mas para ser Príncipe e Salvador, concedendo a Israel arrependimento e perdão (remissão) dos pecados. O arrependimento e o perdão são vistos como uma dádiva.
Embora a misericórdia e o perdão continuassem sendo o peso da mensagem de Pedro, sua proclamação só os incitou à fúria. A misericórdia pressupõe pecado e culpa, e eles não estavam dispostos a admitir; por isso eles formaram conselho para matá-los. Satanás é um homicida desde o princípio e, sob sua influência, o homicídio encheu seus corações. No entanto, Deus tem muitas maneiras de derrotar os desígnios malignos dos homens, e neste caso Ele usou a sabedoria terrena do renomado Gamaliel, que teve Saulo de Tarso como seu discípulo.
Gamaliel citou dois casos recentes de homens que se levantaram fingindo ser alguém; o tipo de homem a quem o Senhor mencionou em João 10, quando falou daqueles que “sobem por outra parte”, e que eram apenas ladrões e salteadores. Eles não deram em nada, e Gamaliel pensou que Jesus poderia ter sido um desses falsos pastores, em vez do verdadeiro Pastor de Israel. Se Ele tivesse sido como tais, Sua causa também teria dado em nada. A advertência de Gamaliel produziu efeitos e os apóstolos foram libertados, embora tenham sido açoitados e demandados a que cessassem seu testemunho.
Verdadeiramente, o concílio estava lutando contra Deus, pois os apóstolos se alegraram em seu sofrimento por Seu Nome e diligentemente seguiram em seu testemunho, tanto publicamente no templo quanto em particular em todas as casas.

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