Ao abrirmos este capítulo,
encontramos Paulo chegando a Éfeso depois que Apolo partiu e lá encontrando
certos discípulos que estavam em um estado similar de ignorância quanto à plena
mensagem do evangelho. Eles eram verdadeiramente “discípulos”, e eles tinham crido em todos os fatos concernentes a
Cristo que ouviram. O Espírito Santo é dado àqueles que creem “na palavra da verdade, no evangelho da vossa
salvação” (Ef 1:13). Eles não haviam crido, porque não tinham ouvido e, consequentemente,
não haviam recebido o Espírito. Como Apolo, eles só tinham ouvido o começo das
coisas, ligado a João Batista, e haviam sido batizados com o seu batismo.
Quando Paulo instruiu-lhes mais profundamente, e tendo sido batizados reconhecendo
o Senhorio de Jesus, e Paulo tendo colocado as mãos sobre eles, o Espírito veio
sobre eles e tanto falaram em línguas como profetizaram. Assim, foi dada
evidência impressionante de que eles haviam entrado no pleno estado Cristão.
Paulo de modo algum culpou
esses doze homens. A transição para a plena luz do evangelho foi gradual
naqueles dias de comunicações lentas. No começo de Hebreus 6, temos coisas ditas que sugerem reprovação.
Havia aqueles entre os crentes judeus que
eram dignos de censura por não terem deixado “os rudimentos [princípio
– JND] de Cristo”, e irem para a
perfeição plena do evangelho. O ministério de João tinha muito a dizer sobre “arrependimento de obras mortas” e de “batismos” e de “juízo eterno”, mas na época em que a epístola foi escrita, toda a
verdade de Cristo havia sido amplamente anunciada; e eles deveriam tê-la
abraçado, mesmo se isso fosse de encontro a muitos dos seus pensamentos
judaicos. Não há desculpa para nós,
se não prosseguirmos para a perfeição.
Tendo sido estes homens
abençoados, Paulo voltou sua atenção para a sinagoga, onde havia testificado
brevemente em sua visita anterior, e por três meses ele argumentou com os
judeus, persuadindo-os ao evangelho. No final desse período, ele percebeu que
seu trabalho estava concluído. O remanescente segundo a eleição da graça era
manifesto, e os demais estavam endurecidos, então ele fez a separação completa
deixando a sinagoga e levando os discípulos com ele, para continuar seu serviço
na escola de Tirano – assim como em Corinto ele tinha deixado a sinagoga para a
casa de Justus. Desse modo, ficou bem claro que o que Deus estava estabelecendo
não era um grupo novo de crentes iluminados entre os judeus, mas uma coisa
totalmente nova, abrangendo judeus e gentios.
Um trabalho tão distinto e
poderoso foi realizado lá que Paulo passou dois anos de trabalho naquela
cidade. Deus o apoiou por manifestações miraculosas de natureza especial, e
toda a província foi evangelizada. Como sempre acontece, uma poderosa obra de
Deus desmascara a obra de Satanás e estimula sua oposição. O restante deste
capítulo mostra como isso aconteceu em Éfeso.
O primeiro passo foi opor-se utilizando
a imitação. Os sete filhos de Ceva pensaram que também eles poderiam expulsar
demônios usando o nome do Senhor Jesus. Mas eles não O conheciam. Ele não era
realmente Senhor para eles, e então só podiam falar d’Ele como “Jesus a Quem Paulo prega”, omitindo
Seu título como Senhor. O demônio imediatamente mostrou que ele não os
conhecia, e ele não foi enganado pelo uso emprestado do nome de Jesus. Os sete
homens ficaram totalmente desconcertados e sua desgraça foi conhecida de todos.
Em resultado, o nome do Senhor Jesus foi magnificado.
Isso levou a um grande e
público triunfo sobre Satanás e sobre as obras das trevas, pelas quais os
homens procuraram manter contato com ele. Muitos que creram foram levados a
confessar como antigamente tinham sido envolvidos e as coisas más que haviam
feito. Muitos outros se afastaram desse mal terrível e queimaram publicamente
os livros que lidavam com essas coisas, apesar de seu valor monetário. A
Palavra de Deus crescia e prevalecia, e esse mal satânico diminuiu e sofreu
derrota. É uma reflexão dolorosa para nós que em nossos dias menos atenção do
que antes está sendo prestada à Palavra, e as práticas espíritas estão
aumentando.
Nessas práticas, Satanás se
aproxima dos homens com todos os ardis da serpente. Derrotado assim, nesta
ocasião, ele recorreu à ação na qual ele se revelou como o leão que ruge. Ele
trabalhou com a cobiça dos homens. O sucesso do evangelho pusera em perigo o negócio
dos ourives, e não era difícil tentar reavivar seu comércio sob a cobertura de
zelo pela reputação de sua deusa Diana. Sua grandeza era para ser desprezada e
sua magnificência para ser destruída? Aqui estava a excelente camuflagem para a
sua verdadeira preocupação quanto às suas próprias perspectivas de fazer dinheiro!
Seu grito de “grande é a Diana dos efésios” foi uma
faísca que incendiou toda a cidade, pois Satanás estivera trabalhando na
fabricação do material inflamável. Seguiu-se o tumulto alarmante, ao qual o apóstolo
alude em sua segunda epístola aos Coríntios, quando ele e seus companheiros
foram “sobremaneira oprimidos acima das
nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Co 1:8 – AIBB).
Os excitados efésios estavam prontos para colocar a sentença de morte sobre Paulo, mas, como ele prossegue nos
dizendo, “em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não
confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos”. Deus o
libertou “de uma tão grande morte”,
mas evidentemente o perigo era tão esmagador que Paulo comparava sua libertação
a uma ressurreição dos mortos.
A partir do relato em Atos,
podemos ver como Deus fez uso de uns e outros na realização da libertação –
alguns dos chefes da Ásia; Alexandre, que tirou a atenção a Paulo; o escrivão
da cidade com seu discurso diplomático. A maioria dos selvagens manifestantes
não sabia exatamente por que estavam se manifestando, e o escrivão da cidade
lembrou-lhes de que as autoridades romanas poderiam virar a situação e
acusá-los de sedição. É digno de nota que ele foi capaz de dizer de Paulo e de seus
companheiros que eles “nem são
sacrílegos nem blasfemam [falaram injuriosamente – JND] da vossa deusa” o
que mostra que eles evitaram cuidadosamente tudo o que poderia causar ofensa.
Eles foram à pregação positiva do evangelho
ao invés de, por uma forma negativa,
expor as loucuras da idolatria.
Este grande alvoroço encerrou
o serviço de Paulo em Éfeso, e ele partiu para a Macedônia, como o primeiro
versículo de Atos 20 registra. É interessante, neste ponto, voltar novamente a
2 Coríntios e ler os capítulos 2:12-13 e depois 7:5-7. A partir desses
versículos, obtemos que Paulo fez uma curta estadia em Trôade em sua jornada
para a Macedônia, mas devido a sua ansiedade em encontrar Tito e ouvir as
notícias dos santos coríntios, ele partiu para a Macedônia, apesar da porta
aberta para o serviço. Chegou à Macedônia, ele ainda estava em grande
inquietação e problemas, mas lá Tito apareceu e ele foi consolado. Então,
evidentemente, o problema em Éfeso foi seguido por mais problemas tanto em
Trôade quanto na Macedônia. No entanto, todo esse lado das coisas é passado em
silêncio no que diz respeito a Atos. Lucas dificilmente poderia registrar esses
detalhes mais íntimos das experiências do apóstolo: aprendemos sobre eles a
partir de sua própria pena.