Enquanto lemos os versículos
de abertura, encontramos a resposta à essa oferta, dada pelos chefes oficiais
da nação. Sendo a oferta baseada na ressurreição do Senhor Jesus, foi
particularmente desagradável para os saduceus e para os sacerdotes, que eram
daquela seita. Eles a rejeitaram incondicionalmente, prendendo os apóstolos. A
obra de Deus, entretanto, prosseguiu em poder convertedor, conforme o versículo
4; e no dia seguinte, quando examinado perante o conselho, Pedro encontrou nova
oportunidade para testemunhar, respondendo à pergunta sobre o poder e o Nome em
que agira.
O Nome e poder era o de Jesus
Cristo o Nazareno, a Quem eles haviam crucificado e a Quem Deus havia exaltado.
O Salmo 118:22 havia se cumprido n’Ele, e Pedro passou a expandir o testemunho
daquilo que era particular àquilo que é universal. O poder do Nome estava bem
diante de seus olhos no caso particular do homem coxo que fora curado, não era
menos potente para a salvação dos homens de uma forma universal. A cura física
do homem era apenas um sinal da cura espiritual que o Nome de Jesus traz. O
desprezado Jesus Nazareno é a única porta para a salvação.
Os versículos 13-22 mostram,
de maneira mais impressionante, como o testemunho de Pedro foi justificado. Os
apóstolos eram indoutos e ignorantes de acordo com os padrões do mundo, ainda assim
haviam estado com Jesus e eram ousados, e isso impressionou o conselho, que
desejaria tê-los condenado. Três coisas impediram no entanto:
- Eles “nada tinham que dizer
em contrário” (v. 14);
- Eles tiveram que confessar: “por
eles foi feito um sinal notório, e não o podemos negar” (v. 16);
- Eles não acharam “motivo para os castigar” (v. 21).
Quando os homens desejam desacreditar qualquer coisa, eles geralmente, em primeiro lugar, a negam, caso seja possível.
Se isso não for possível, encontrarão algum modo de falar contra ela,
deturpando-a, se for necessário. Por fim, se isso não for possível, atacam as
pessoas envolvidas na coisa, difamando as pessoas que as defendem e punindo-as.
Esses três conhecidos artifícios estavam nas mentes dos homens do conselho, mas
todos falharam, pois estavam lutando contra Deus. Eles poderiam apenas
ameaçá-los e exigir que eles parassem de proclamar o Nome de Jesus. Pedro
repudiou a exigência deles, pois Deus lhes havia ordenado que pregassem em Nome
de Jesus, e como Ele era a Autoridade infinitamente superior, eles devem
obedecer a Ele e não a eles.
Seguem-se os versículos 23-37
com uma bela imagem da Igreja primitiva em Jerusalém. Liberados pelo conselho,
os apóstolos “foram para os seus [para os da sua própria companhia – JND]”. Isso nos mostra que, no início, a Igreja
era uma “companhia” distinta e separada do mundo, até mesmo do mundo
religioso do judaísmo. Este ponto precisa de muita ênfase em dias em que o
mundo e a Igreja têm sido misturados em grande parte.
A Igreja primitiva encontrou
seu recurso na oração. Na emergência,
eles se voltaram para Deus e não para os homens. Eles poderiam ter desejado que
o conselho fosse de um caráter menos saduciano, com mais liberalidade e
amplitude em seu ponto de vista, mas não se mexeram para obtê-lo; eles
simplesmente procuraram a face de Deus, o Governador soberano dos homens.
Em sua oração, eles foram
conduzidos à Palavra de Deus. O Salmo 2 lançou sua luz sobre a situação que os
confrontava. A interpretação da passagem se referiria aos últimos dias, mas
eles viram a aplicação dela que se referia a seus dias. A Igreja primitiva foi
marcada pela sujeição à Palavra,
encontrando nela toda a luz e orientação de que precisavam. Essa também é uma
característica muito importante e instrutiva.
Eles também estavam muito
mais preocupados com a honra do Nome de Jesus do que com sua própria tranquilidade
e conforto. Eles não pediram o fim da perseguição e oposição, mas que eles pudessem
ter ousadia em falar a Palavra, e ter aquele apoio milagroso que exaltaria o
Seu Nome. A Igreja é o lugar onde esse Nome
é tido como amado.
Como resultado disso, houve
uma manifestação excepcional do poder do
Espírito. Todos eles foram cheios d’Ele; o próprio edifício onde eles se
encontraram foi abalado e sua oração, por causa da especial ousadia, foi
instantaneamente respondida. E não apenas isso, mas aquilo que eles não haviam
pedido lhes foi concedido; “E era um o coração e a alma”. Isto
naturalmente fluiu do fato de que o “um
Espírito” de mente e de coração estava enchendo cada um deles. Se todos os
crentes hoje estivessem cheios do Espírito, a unidade de mente e coração os caracterizaria.
Esta é a única maneira pela qual tal unidade poderia acontecer.
Além disto, fluía a próxima
característica que o versículo 33 menciona. Houve grande poder no testemunho dos apóstolos para o mundo. A Igreja não
pregou, mas, cheia de graça e poder, apoiou aqueles que o fizeram. A pregação
então, como sempre, estava nas mãos dos que foram chamados por Deus para fazê-la,
mas o poder com o qual eles a faziam era em grande parte influenciado pelo
estado que caracterizava toda a Igreja.
Os versículos finais mostram
que assim como havia um poderoso testemunho fluindo
para fora, havia a circulação do amor e do cuidado fluindo por dentro. A comunidade Cristã, mencionada no final do
capítulo 2, ainda continuava. A distribuição era feita “segundo a necessidade de cada um” (TB). Não os desejos das pessoas, mas suas necessidades foram satisfeitas, e assim
ninguém teve falta. Numa data posterior, Paulo poderia dizer: “estou instruído, tanto a ter fartura, como
a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade” (Fp 4:12),
mas nessa época tais experiências eram desconhecidas pelos santos em Jerusalém.
Se, ao escapar de tais experiências, eles se beneficiaram mais do que Paulo,
que passou por elas, é uma questão deixada em aberto, embora nos inclinemos a
pensar que não. De qualquer forma, a ação de Barnabé era muito bonita, e o amor
e cuidado encontrados na Igreja deveriam ser conhecidos hoje, embora pudesse
haver alguma variação no modo exato de expressá-los.