domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 13


ATOS 13

Esta grande igreja, composta principalmente de gentios, tinha nada menos que cinco profetas e mestres no meio dela. Seus nomes são dados e se mostram muito instrutivos; porque um deles tinha um sobrenome que provavelmente indica que ele era um homem negro (Níger significa Negro), um era suficientemente distinto tendo sido um irmão adotivo de Herodes, Barnabé era um judeu helenista, Saulo tinha sido um fariseu dos fariseus e Lúcio pode ter sido um gentio. Assim, desde o principio era manifesto que a raça e a criação não são as coisas que contam mais decisivamente na Igreja, mas o dom que é concedido do alto. Esses homens não somente ministravam aos santos para sua instrução, mas também ao Senhor em ações de graças, intercessão e jejum; e foi em uma dessas ocasiões privadas que o Espírito Santo deu instruções definidas de que Barnabé e Saulo deveriam ser separados especialmente para ir com o evangelho ao mundo gentio.
O primeiro e o último dos cinco foram escolhidos para esta missão. Os outros oraram por eles e se identificaram com eles em seu próximo serviço pela imposição de mãos. Esta imposição de mãos não era o que hoje é chamado de “ordenação”, pois os dois homens escolhidos já estavam em pleno exercício de seu ministério. A imposição de mãos invariavelmente expressa identificação. Os outros disseram de fato: “Estamos inteiramente com você em sua missão”; de modo que em plena comunhão, e sem ciúmes ou rivalidade, eles os enviaram.
Mesmo assim, foi realmente o Espírito Santo que os enviou, como diz o versículo 4; e para Chipre, à antiga casa de Barnabé, eles foram em primeiro lugar, Marcos, seu sobrinho, os acompanhando. Chegados a Pafos, eles tiveram o encorajamento de encontrar o governador principal da ilha pronto para a Palavra de Deus; mas ao mesmo tempo encontraram oposição satânica. A oposição dos poderes das trevas é um sinal encorajador, e não o inverso.
Elimas era um judeu apóstata, que se vendeu ao serviço do diabo, e ele se tornou o principal oponente do evangelho em Pafos. Mas assim como o poder de Satanás foi expresso nele, assim o poder do Espírito Santo energizou Saulo, e ali foi dada uma prova muito impressionante e drástica de que “maior é O que está em vós do que o que está no mundo” (1 Jo 4:4). O verdadeiro caráter do homem foi desmascarado, e a mão do Senhor foi colocada sobre ele em julgamento. É impressionante que Saulo deva agora ser usado para trazer algo semelhante àquele que havia caído sobre si mesmo. Depois de três dias, as escamas caíram dos olhos de Saulo. Em Elimas, desceu “uma névoa e trevas” (TB), que combinavam apropriadamente com a escuridão enevoada de sua mente. O procônsul creu, e foi a doutrina do Senhor que o impressionou e não o milagre.
A partir deste ponto da narrativa, Lucas dá a Saulo seu novo nome de Paulo (significando Pequeno), e ao mesmo tempo vemos o Espírito empurrando-o para a posição de liderança no serviço e ministério, de modo que no versículo 13, “Paulo e seus companheiros” (ARA), é a frase usada. Existe uma conexão projetada, pensamos, entre a mudança de nome e a mudança de posição. Aquele que é Pequeno se torna o líder; e isso ilustra as palavras do Senhor em Mateus 18:4. Será que isso tem algo a ver com João Marcos deixando a companhia neste momento, nos perguntamos? Barnabas, seu tio, estava sendo um pouco ofuscado.
Em Antioquia, na Pisídia, os governantes da sinagoga convidaram os visitantes para que falassem uma mensagem, e novamente Paulo é aquele que aproveita a oportunidade e fala. O registro de sua pregação é dado – versículos 17 a 41 – então aqui temos uma visão valiosa de sua apresentação do evangelho a uma audiência mista de judeus e prosélitos.
Ele começou com a escolha de Deus por seus pais no Egito, tirando-os de lá e, a partir daí, levou-os à escolha de Deus por Davi e à Sua promessa de um Salvador da semente daquele homem. Ele então apresentou Jesus como sendo a Semente prometida, como testemunhado por João Batista. Agora, a notícia da salvação que está centralizada naquele Salvador foi enviada a todos os seus ouvintes, incluindo: “os que dentre vós temem a Deus”; isto é, os prosélitos gentios entre eles.
Ele então passou a falar da morte e ressurreição de Jesus: Sua morte, o ato iníquo dos judeus de Jerusalém, Sua ressurreição, o ato de Deus, e aquela ressurreição amplamente confirmada pelo testemunho de confiáveis testemunhas. Por isso, ele lhes trouxe “boas-novas” de duas maneiras. Primeiro, as boas-novas de Deus cumprindo Sua promessa de “suscitar [levantar – AIBB]” (TB) Jesus. Esse versículo se refere à vinda do nosso Senhor ao mundo, de acordo com o Salmo 2. Então, segundo, houve a boa notícia de que, quando os homens entregaram Jesus à morte, Deus O ressuscitou dos mortos para nunca mais morrer. Paulo encontrou uma alusão à ressurreição em “as firmes beneficências [seguras misericórdias – JND] de Davi” (Is 55:3), bem como nas palavras bem conhecidas, que ele cita do Salmo 16. Uma foi escrita sobre Davi, e a outra escrita por Davi; mas em nenhum dos casos o Espírito de Deus realmente Se referiu a Davi, como diz o versículo 36. Davi “havendo servido à sua própria geração pela vontade de Deus” (AIBB), viu corrupção, e as palavras de seu Salmo só poderiam se referir a Cristo.
Tendo assim estabelecido a ressurreição de Cristo, Paulo levou seu discurso ao ponto mais alto pelo anúncio do perdão dos pecados por meio deste “Homem”, ressuscitado dos mortos. O anúncio foi feito com uma entonação como uma proclamação divina. Não havia citações das Escrituras do Velho Testamento para isso. “Seja-vos, pois, notório”, disse ele. O que ele anunciou eles deveriam saber, pois realmente era Deus Quem estava falando por meio de seus lábios. Em 1 Coríntios 2:13, encontramos Paulo reivindicando a inspiração do Espírito Santo para suas palavras faladas; e assim sendo, não hesitamos em concordar a mesma inspiração aos seus escritos, preservados para nós no Novo Testamento. Quando Paulo disse: Seja-vos, pois, notório, então aqueles que criam poderiam saber. E da mesma maneira nós sabemos, quando cremos nas Sagradas Escrituras.
Paulo não apenas deixou claro este anúncio geral do perdão; ele também declarou o resultado positivo que seguiria a crença na mensagem do evangelho. Por Cristo, o crente é justificado de tudo. Pelas obras da lei, nenhum de nós pode ser justificado de nenhuma forma: pela fé de Cristo somos justificados de tudo. Somos absolvidos de toda acusação que poderia se levantar contra nós e investidos da “justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3:9). Tudo isso depende da fé em Cristo, ressuscitado dos mortos. É “por este (Homem)” e “por Ele”.
Paulo fechou seu discurso com uma palavra de advertência, e isso estava de acordo com o que ele afirma em Romanos 1:16-18. No evangelho, a “justiça de Deus” é revelada, como acabamos de ver no versículo 39 de nosso capítulo; mas é revelada sobre terrível pano de fundo da “ira de Deus”. Daí as suas solenes palavras nos versículos 40 e 41. O modo como ele cita Habacuque 1:5 é muito impressionante, pois a alusão é clara aos caldeus. No entanto, embora os caldeus tenham sido um cumprimento imediato da profecia, evidentemente haverá um cumprimento maior e final no julgamento do Dia do Senhor. Nenhuma profecia da Escritura é de qualquer “particular interpretação” (2 Pe 1:20).
Os versículos 43-48 mostram que o evangelho é de fato o “poder de Deus” para a salvação de todos os que creem. Judeus e prosélitos foram alcançados primeiramente; mas quando a massa dos judeus, cheios de inveja, começou a violenta oposição, os apóstolos definitivamente se voltaram para os gentios com a oferta de salvação, encontrando em Isaías 49:6 uma ordem clara do Senhor para fazê-la. Luz e salvação para os gentios tinham sido o propósito de Deus desde os dias da antiguidade. Muitos gentios creram e assim se tornou manifesto que eles foram ordenados para a vida eterna. Não sabemos quem é ordenado para a vida eterna, por isso não podemos prever quem vai crer. Quando encontramos alguém realmente crente, sabemos imediatamente que são ordenados para a vida eterna.
Não somente em Antioquia era pregada a Palavra, mas também em toda a região circunvizinha; e a prosperidade da obra provocou tamanha perseguição que Paulo e Barnabé tiveram que partir. Poderíamos ter considerado desastroso que esses novos discípulos deveriam achar perseguição e perder os seus pregadores. A obra em suas almas, no entanto, era de caráter tão sólido que, em vez de estarem deprimidos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo. Sem dúvida, os discípulos são mais frequentemente prejudicados pela prosperidade do que pela perseguição.

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