domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 20


ATOS 20

Em Atos, somos simplesmente informados de que Paulo fez muita exortação aos santos na Macedônia, que visitou a Grécia e que, para evitar os judeus perseguidores, ele retornou pela Macedônia no caminho de volta à Ásia. O versículo 4 nos dá os nomes de seus companheiros de viagem nesta jornada de volta, embora eles tenham ido em frente pelo mar e esperado por ele em Trôade. No versículo 5, Lucas usa novamente o pronome “nós”, o que mostra que neste ponto ele novamente fez parte do grupo. Paulo, Lucas e outros tiveram uma viagem de cinco dias, que os levaram novamente a Trôade, onde não muito antes “foi aberta uma porta no Senhor” (TB). Os seguintes versículos do nosso capítulo mostram que um grande interesse pelas coisas de Deus ainda era encontrado naquele lugar.
Paulo passou apenas uma semana em Trôade, mas durante esse tempo ocorreu a reunião memorável registrada nos versículos 7-12, e nos é fornecida uma imagem muito agradável da simplicidade e zelo que caracterizavam aqueles dias. Havia se tornado o costume dos discípulos de se encontrar para o partir do pão – a ceia do Senhor – no primeiro dia da semana. Não o sábado, mas no dia seguinte, quando o Senhor ressuscitou dos mortos, foi selecionado para isso, embora não fosse um dia de lazer, como o dia anterior teria sido para aqueles que eram judeus. Daí os Cristãos se reuniram à noite, quando o trabalho do dia havia terminado. Um cenáculo era o lugar de encontro deles, sendo os “edifícios de igreja” desconhecidos por eles. Paulo, com poucos dias à sua disposição, aproveitou a oportunidade para falar a eles; e eles estavam tão cheios de interesse que ficaram a noite toda ouvindo suas palavras.
É fácil imaginar a cena. O cenáculo lotado; o jovem empoleirado na abertura da janela; as muitas luzes que aumentavam a opressão quente do ar sonolento flutuando pela janela; a súbita interrupção quando Êutico entra em colapso e cai. No entanto, o poder de Deus era tão manifesto por meio de Paulo que, em vez deste episódio interromper a reunião e distrair a todos da mensagem de Paulo, seus corações foram confortados e confirmados, para se acalmarem e o ouvirem até ao amanhecer. O apóstolo estava agora iniciando sua jornada final para Jerusalém; cuja razão pode ser colocada em questão, mas não há dúvida de que o Espírito de Deus estava operando por meio dele como antigamente. Nenhum milagre mais notável do que este foi feito por meio de Paulo. A história é marcada pela ausência do que é cerimonial e oficial, mas pulsa com poder. No Cristianismo popular hoje, o que é cerimonial está no campo de ação e o poder está ausente. Que tal deveria ser!
Tendo chegado o dia, Paulo deixou Trôade a pé; Lucas e seus outros companheiros indo por mar e encontrando-se com Paulo em Assôs. Chegando a Mileto, ele chamou os anciãos da Igreja em Éfeso para que ele lhes desse um encargo, sob a convicção de que ele não os veria novamente. Seu comovente discurso parece cair naturalmente em três partes.
Na primeira parte ele revisa seu próprio ministério entre eles; isso se estende dos versículos 18-27. Suas primeiras palavras foram: “Vós bem sabeis, desde o primeiro dia ... como em todo esse tempo me portei no meio de vós”. Então, depois de falar da maneira de seu trabalho, ele prossegue para a maneira que o caracterizou. Nos dois modos e no assunto, podemos tomá-lo como modelo para nós mesmos.
Em primeiro lugar, seu trabalho era serviço. Ele não era um grande dignitário eclesiástico, ocupando-se do rebanho de Deus, mas um servo; servindo os santos de fato, ainda servindo principalmente ao Senhor ao servi-los, e fazendo sempre desde os primeiros dias até os últimos. Servindo, além disso, com humildade de mente, como tem sido tão evidente nos capítulos anteriores. Ele não era um homem que esperava que todos cedessem ou servissem a ele: ele era o ajudante de outros, trabalhando com suas próprias mãos para que pudesse assim fazer o que fazia. Mais uma vez foi com lágrimas, e no meio de muitas tentações que vieram dos judeus. As lágrimas falam de sentimento profundo e exercício do coração; enquanto as tentações mostram que ele foi continuamente confrontado por dificuldades e oposição.
Ele também foi marcado pela fidelidade na declaração da verdade e em sua aplicação aos santos. Ele não cortejou essa popularidade barata que vem da retenção de coisas que podem não ser palatáveis, mas sempre visava o benefício deles. E, além disso, ele não se limitou à pregação pública, o que muitas vezes significa uma boa visualização e aprovação, mas se entregou àquele trabalho de casa em casa (ARA), o qual é muito menos notado, mas muitas vezes mais eficaz. Tudo isso mostra como ele se portou enquanto estava entre eles. Mas há também aquilo de que ele fala no versículo 24; sua total devoção ao ministério confiado a ele e àqu’Ele de Quem ele o recebeu. Ele entregara sua vida por esse propósito e, portanto, nenhuma antecipação de problemas ou mesmo a própria morte iria afetá-lo. Quando um servo de Deus acrescenta à sua fidelidade uma devoção que não vacila diante da morte, haverá, com certeza, poder em seu ministério.
Então, quanto ao assunto que caracterizou seu ministério, ele menciona três temas. Primeiro o evangelho, que lhe havia sido confiado e que envolvia seu testemunho em todos os lugares e para todos, “o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”. O evangelho anuncia “a graça de Deus”, que foi tornada conhecida em Cristo, em Sua morte pelos nossos pecados, Sua ressurreição para a nossa justificação; isso leva, por nosso lado, ao arrependimento e fé. Esse tem sido consistentemente o tema de sua pregação.
Ele também havia pregado “o reino de Deus”, mas isso não foi entre “todos”, mas “todos vós. Isto é, ele pregou o reino em todos os lugares entre os discípulos. Isto evidentemente tem um peso atual. Sem dúvida ele falou do reino que deve ser estabelecido publicamente, quando falou das coisas futuras; mas ele também manteve diante deles que eles já haviam sido colocados sob a autoridade de Deus ao receber a Cristo como Senhor, e ele lhes mostrou o que significava estar sujeito à santa vontade de Deus de uma maneira prática. É perceptível, por exemplo, que em suas epístolas Paulo nunca se contenta em apresentar a verdade em abstrato; ele sempre procedeu para impor a conduta que a verdade indicava como sendo a vontade de Deus para eles.
Então, em terceiro lugar, ele declarou a eles “todo o conselho de Deus”. Ele os trouxe à luz de tudo o que Deus propôs para Cristo, a Igreja e o mundo vindouro. Isso lhes deu o conhecimento do que até então tinha sido mantido em segredo, e mostrou-lhes que Deus tinha pensamentos mais elevados do que Seus propósitos anteriormente revelados em relação a Israel. Este terceiro tema de seu ministério foi o que despertou uma oposição tão furiosa por parte de muitos dos seus ouvintes judeus e finalmente levou à sua prisão. Daí suas palavras: nunca deixei de vos anunciar”. Se ao menos ele tivesse evitado essa parte de seu ministério, ele poderia ter tido um tempo muito mais pacífico a seu serviço e evitado muitos problemas; porque o conselho de Deus envolveu a entrada dos gentios, de acordo com a verdade da Igreja. Ele sabia disso, mas não recuou.
Um ministério integral da Palavra de Deus hoje deve incluir estes três temas – o evangelho de Deus, o reino de Deus, o conselho de Deus.
Nos versículos 28-31, encontramos a segunda parte de seu discurso, na qual ele os exorta e os adverte. O Espírito Santo os fez bispos entre o rebanho que é a Igreja de Deus. Aquele rebanho não era deles, mas de Deus por direito de compra, e eles deveriam alimentá-lo ou pastorá-lo. Mas primeiro deviam prestar atenção quanto a si mesmos, pois se um homem não se preocupa primeiro em cuidar de si mesmo como pode cuidar do rebanho? Além disso, deveriam vigiar e estar em guarda contra os adversários, lembrando-se de como o próprio Paulo os advertira com profundo sentimento durante três anos. Não é fato que esse ministério de advertência quase desapareceu por desuso?
Aqui Paulo adverte os anciãos de duas principais fontes de dano: primeiro, os lobos cruéis que entram de fora; segundo, o surgimento de homens pervertidos por dentro. Por “lobos” ele quis dizer sem dúvida homens que eram verdadeiros agentes do diabo; o tipo de que Pedro fala como trazendo “heresias destruidoras” (ARA). Como esta previsão foi cumprida, a história da Igreja é testemunha; como também testemunha do mal causado pelos homens que se levantaram do meio dos anciãos, falando coisas “perversas” ou pervertidas (ARA). Estes são homens que, muito possivelmente, são verdadeiros crentes, mas dão uma distorcida em seus ensinamentos, o que perverte a verdade. Assim, eles se tornam líderes de partidos e centros de atração para aqueles que eles enganam. Eles atraem a si mesmos em vez de levar a Cristo. Nessas palavras, Paulo esboçou o futuro do que conhecemos como Cristandade.
É por essa razão, talvez, que não encontramos na Escritura nenhuma instrução quanto à perpetuação dos anciãos de maneira oficial além do tempo da vida do apóstolo. Se de entre os anciãos viessem estes trabalhadores do engano, é bom que nos seja permitido reconhecer e aceitar com gratidão aqueles a quem Deus possa levantar, sem que eles tenham uma nomeação oficial. No caso de homens que falam coisas pervertidas, sua nomeação oficial só seria usada para sancionar o que está errado.
Na terceira parte de seu discurso, Paulo indicou os recursos que permaneceriam apesar de tudo o que aconteceria. Suas palavras eram breves e compreendidas em um versículo, mas sua questão era do maior peso e importância. Nosso grande recurso está em Deus e não no homem. Ele não os encomendou aos outros apóstolos: ele certamente não podia encomendá-los aos anciãos, pois estava se dirigindo a eles e, do meio deles obreiros do engano surgiriam. Deus e somente Deus é o recurso do Seu povo. Mas então Ele deu Sua Palavra, que revela a Si mesmo. Anteriormente Ele falou por meio de Moisés, como registrado no Velho Testamento: essa era a Palavra de Sua exigência para com os homens. Agora Ele falou em Cristo, como registrado no Novo Testamento; e essa é a Palavra de Sua graça. A esta Palavra somos especialmente encomendados, pois ela é capaz de nos edificar na fé, e nos dar poder espiritual e gozar a herança junto com tudo o que é santificado, o qual é nosso. A herança é nossa por fé em Cristo (ver Atos 26:18), mas é ministrada a nós no poder presente pela Palavra de Sua graça.
A importância deste trigésimo segundo versículo para nós hoje dificilmente pode ser exagerada. Deus e Sua Palavra permanecem para nós, o que quer que apareça. Nenhum poder do mal pode tocar em Deus. Ele permanece e podemos manter contato com Ele em oração, em comunhão, em ação de graças e adoração. Sua Palavra permanece, pois Ele a guardou em Sua providência e a preservou para nós. No entanto, é claro, é objeto de incessantes ataques do inimigo. Muito cedo foi quase sufocada pelas tradições dos Padres; então foi enterrada em uma língua desconhecida e apartada do povo; agora que está disponível gratuitamente, é violentamente criticada, e toda tentativa é feita para destruir sua autoridade. Seguindo os passos de Judas, grandes homens a cumprimentam com um beijo, dizendo: “Salve, mestre de bela linguagem!” Mas apenas para traí-la àqueles que lhe arrancariam todo vestígio de autoridade divina. E, apesar de tudo, ela permanece como o recurso do coração crente e obediente.
Paulo termina seu discurso referindo-se novamente à retidão e sinceridade que o marcaram. Longe de desejar adquirir, ele tinha sido um doador para os outros. Ele registrou uma palavra do Senhor Jesus que não está registrada nos evangelhos, e aquela palavra que ele havia exemplificado. Ele tinha anteriormente falado de ter anunciado e ensinado a eles (v. 20), e ele repete que os havia anunciado todas as coisas. Ele praticava diante deles o que lhes pregava. E é o espalhar que fala tão efetivamente.
Paulo foi chamado para ser um modelo para nós tanto santo, como servo, por isso nos é dado este registro inspirado da sua revisão de seu serviço e, ao nos medirmos por esse modelo, somos profundamente humilhados. Tendo acabado suas palavras para os homens, ele se ajoelhou em oração com todos eles, em meio às suas lágrimas. Deve ter sido uma cena comovente. A palavra usada para “beijar” é aquela que significa beijar ardentemente; é a palavra usada para os beijos concedidos pelo pai ao pródigo em Lucas 15 (A tradução de J. N. Darby do v. 20 diz: ... e o cobriu com beijos”). No entanto, talvez detectamos um elemento de fraqueza pois o que os fez sofrer mais do que tudo foi o fato de que eles não poderiam esperar vê-lo novamente. Será que eles não deveriam ter se entristecido ainda mais pelo fato de que a formosa Igreja de Deus seria devastada por lobos e prejudicada por homens pervertidos?

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