domingo, 16 de junho de 2019

ATOS 16


ATOS 16

Este capítulo abre com Paulo de volta para Derbe e Listra, isto é, para as cenas em que ele havia sofrido o apedrejamento. Naqueles mesmos lugares ele agora encontra Timóteo, que se tornaria um conforto para ele em seus últimos anos. Uma ilustração feliz de como o governo de Deus age em favor dos piedosos. Estamos aptos a pensar nele apenas como agindo contra os ímpios. Do próprio lugar dos sofrimentos de Paulo surgiu um dos seus maiores confortos.
Ora, como o pai de Timóteo era grego, ele não havia sido circuncidado e não teria sido aceito nos círculos judaicos. Paulo sabia disso e o circuncidou; uma ação que se superficialmente analisada parece totalmente em desacordo com a atitude dele em relação a Tito – veja Gálatas 2:3-5. Mas ali toda a verdade do evangelho dependia da questão, enquanto aqui não havia nenhuma questão envolvida. No caso de Timóteo, era apenas uma questão de remover algo que seria um obstáculo em seu serviço ao Senhor, e Paulo não estava preocupado em manter para si uma aparência de consistência que teria sido apenas superficial. Ali estava um companheiro dado por Deus no trabalho, e era conveniente remover tudo o que pudesse impedir seus esforços.
A longa permanência de Paulo na Ásia Menor nesta segunda jornada é apresentada em quatro curtos versículos (5-8). Isso incluía trabalhos do tipo pastoral, pois eles passavam por regiões onde as igrejas já estavam estabelecidas por meio de seus primeiros trabalhos, e a estes eles instruíram a observar o que havia sido decidido na reunião em Jerusalém, e eles foram estabelecidos e aumentados em número. Então eles foram para novas regiões, Frígia, Galácia e Mísia, e nestes, é claro, fizeram o trabalho de evangelistas. Isto evidentemente foi a ocasião em que ele teve uma recepção tão maravilhosa dos Gálatas, a qual ele alude em Gálatas 4:13-15. Foi também um tempo em que Deus exerceu um controle muito forte sobre seus movimentos. Quando a Mísia foi alcançada, Bitínia ficava ao norte ou nordeste, e a Ásia ao sul. Em ambas as direções ele teria ido, se permitido. No primeiro caso, ele foi diretamente impedido pelo Espírito Santo, e no segundo, o Espírito não o permitiu ir, o que aparentemente indica direção de um tipo menos direto, e mais por meio de circunstâncias.
Trôade estava na costa do mar da Mísia, e aqui Paulo recebeu direção clara quanto a seus movimentos por meio da visão do homem da Macedônia. Então, aqui na abrangência de cinco versículos, encontramos a orientação divina transmitida a Paulo de três maneiras diferentes, duas vezes de um tipo negativo e uma vez de um tipo positivo. Isso deve fornecer alguma orientação a qualquer um que, muito desejoso da direção divina, espera recebê-la de uma forma de sua própria escolha.
Aceitando a visão como dando-lhes a direção de Deus, Paulo e seus cooperadores imediatamente obedeceram, e o versículo 11 mostra que Deus mudou os ventos em seu favor e eles tiveram uma viagem muito rápida; porque vemos, em Atos 20:6, que, anos depois quando ele tomou a jornada na direção inversa, custou-lhe cinco dias. Em Trôade, Lucas, o escritor do livro, evidentemente se uniu a Paulo, pois nos versículos 4, 6, 7, 8, ele usa invariavelmente “eles” e “lhes”, enquanto no versículo 10 os pronomes repentinamente se tornam “nós” e “nos” e assim continuam por todo o relato dos feitos em Filipos.
Filipos tinha o status de colônia romana, então o elemento romano era forte ali, e talvez consequentemente o elemento judaico fosse fraco. Nenhuma sinagoga existia ali, e tudo o que se encontrava era um local fora da cidade perto de um rio onde a oração ao verdadeiro Deus era oferecida. Eles procuraram por aquele local e encontraram apenas algumas mulheres reunidas; sentaram-se e conversaram com elas. Isso não parecia um começo muito promissor, mas Paulo era o tipo de homem que aceitava e utilizava pequenas coisas. Ele não tentou pregar formalmente, apenas sentou-se e conversou de maneira informal. Este começo humilde teve um ótimo final. Estabeleceu-se uma igreja que, acima de outras, estava cheia de graça e era um conforto para ele.
O trabalho começou no coração de Lídia, que foi aberto por Deus. As palavras “que servia a Deus” indicam que ela era uma buscadora, e havia se tornado prosélito, e agora, no evangelho que Paulo pregou, encontrou tudo aquilo que buscava. O trabalho foi tranquilo, mas muito real, pois ela e sua casa foram batizadas, e ela imediatamente se identificou com os servos do Senhor abrindo sua casa para eles.
O próximo incidente foi o encontro com a escrava que abriu seu coração a algum agente tenebroso do diabo. Ela fingiu aprovar Paulo e seus cooperadores, e isso poderia agradar alguns, que poderiam ter imaginado: “Bem, somos servos de Deus, e se ela gosta de nos anunciar, deixe-a!” Paulo, no entanto, não era míope assim. Ele viu que o patrocínio do diabo não é para ganho, mas para desastre, e ele recusou seu testemunho, ordenando que o espírito maligno saísse dela. O espírito tinha que obedecer e seus senhores sabiam que seu plano de ganhar dinheiro estava arruinado. Isso incitou sua ira, e Paulo e Silas foram arrastados perante os magistrados com uma acusação formulada de modo a levantar o preconceito romano contra eles. Isso agitou a multidão, e também moveu os magistrados para ação excitada e não romana. Nenhum julgamento adequado foi realizado; eles foram açoitados e lançados na prisão.
Sob essas circunstâncias, até mesmo o carcereiro agia com extrema severidade, e a noite caía sobre eles nessa triste situação. Eles foram tentados a vacilar e duvidar, achando que a visão do macedônio fora um pouco visionária? Possivelmente; porque eram homens de fraqueza semelhante a nós mesmos. Mas, se o fizeram, a fé logo triunfou, e na hora mais sombria eles não estavam apenas orando, mas cantando louvores a Deus. De repente, Deus interveio e não apenas pelo terremoto, pois neles as portas mais frequentemente se tornam emperradas do que abertas; e nenhum terremoto comum atinge os grilhões dos prisioneiros.
Conhecendo a severidade da lei romana em relação à custódia dos prisioneiros, o carcereiro estava à beira do suicídio quando o grito de Paulo chegou aos seus ouvidos. O fato de que ele pediu por uma “luz” (v. 29), mostra que eles estavam todos no escuro. Como Paulo sabia o que o carcereiro estava prestes a fazer? O chamado repentino de Paulo foi evidentemente inspirado pelo Espírito de Deus, e veio como uma voz de Deus para o carcereiro. Aqui finalmente estava o macedônio! Ele estava tremendo: ele estava face a face diante de seus prisioneiros! Dali a pouco ele estaria fazendo a grande pergunta, que desde então tem sido feita por milhões de pecadores convictos. Ele recebeu a resposta imortal, que foi usada para a iluminação e salvação de inúmeras almas.
Costumamos citar Atos 16:31, mas muitas vezes omitimos as últimas três palavras. Deus ama identificar a casa de um homem consigo mesmo e incluí-los em Sua oferta de bênção. Por que não abraçamos com mais frequência esse fato em nossa fé? Já tivemos no capítulo a mulher convertida e sua casa: agora temos o homem convertido e sua casa. Isso certamente é muito encorajador para todos os chefes de casas que podem ser alcançados pela graça de Deus; já que não há acepção de pessoas com Deus, e o que Ele é para um é para todos.
O carcereiro creu e mostrou sua fé por suas obras sem um momento sequer de atraso. Então, embora ainda fosse noite, “ele e todos os seus” foram batizados imediatamente. Esta é uma evidência bastante clara de que o batismo não é uma ordenança que pretende ser uma confissão da fé de alguém e, portanto, deve ser observada em público. Se fosse assim, que oportunidade teria se perdido aqui! Quão efetivamente a coisa poderia ter sido feita no dia seguinte, quando a opinião pública teria se tornado um pouco a favor de Paulo! A cidade deveria estar numa confusão total após o terremoto, mas o carcereiro e sua casa tiveram os elos cortados com a velha vida sem qualquer demora: pois o batismo significa dissociação, por meio da morte de Cristo.
Quando os magistrados cederam no dia seguinte, Paulo aproveitou a oportunidade para mostrar-lhes como eles mesmos haviam transgredido, vendo que ele e Silas eram cidadãos romanos. Ele não forçou o ponto adiante, nem de alguma forma revidou. No entanto as maneiras dos magistrados foram suavizadas, e eles tiveram tempo de ver os irmãos e exortá-los antes de partirem. Da epístola aos Filipenses, podemos ver quão bem o trabalho progrediu após a partida deles.

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